Canavial

Andei por todos os cantos procurando abrigo, emprego...

Conheci pessoas más, que antes não causavam danos

Trabalhei a troco de quase nada naquelas terras longínquas...

“Comi o pão que o diabo amassou, naqueles meses que pareciam eternos anos.”

Foram semanas de sofrimento naquela cidade do interior

“Trabalhei no canavial como um verme enterrado na lama”

Eram treze horas por dia naquele inferno de dante!

A comida era escassa, e raríssima era a grana.

Estava disposto a fugir, mas, era mantido como um escravo

Além de mim haviam outros, que viviam a mesma agonia

Pensei muito em meu subterfúgio, queria aliados para obter êxito

Combinei com três parceiros, quando trabalhávamos em forte ventania.

Marcamos a perigosa escapatória para o dia doze de agosto

Aproveitaríamos a festa da cidade, pois os patrões estariam em bebedeira

Lá pelas nove horas, começamos a adentrar a mata extensa

Era um atalho que nos levaria à estrada, e por ela à fronteira.

Quase uma hora depois, chegamos à esperada rota

Mas, para a nossa surpresa, os capangas já tinham sido avisados

Com seus rifles reluzentes, começaram a nos ofender

Filhos da puta! Vagabundos! Vocês não serão por isso perdoados!

Voltamos os quatro para o caos, amarrados aos imponentes cavalos

Já estava começando a tortura, e já podia prevê a tempestade que viria

Quando chegamos à fazenda, fomos trancafiados no imundo porão

Foram seis dias sem provisões e pouca água, nessa infernal estadia!

Ao sétimo dia de clausura, uma mão abriu a enferrujada porta

Deram-nos água em canecas imundas, e um pouco de comida na tigela

Depois que terminamos, nos levaram às pressas ao atordoante canavial

Ia começar tudo de novo, horas e horas naquela terrível e disfarçada cela.

Fiquei alí durante todo o outono chuvoso do ano de noventa e um

Não via perspectiva na vida, e já não tinha ânimo para fugir

Chegado o rigoroso inverno, eu estava deprimido e bastante magro

As lágrimas beijaram o velho facão, não poderia mais essa tortura resistir.

Estava cansado e quem diria, com saudades da vida que levava

Não possuia um teto, mas, as ruas me deixavam bastante feliz

A depressão sufocava-me tanto, que não via beleza no belo pôr de sol

E com os meus pulsos rapidamente cortados, por entre as canas me desfiz...

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Guarapari, 17 de Abril de 2013