OS OUTROS
De todos os cantos eles vêm
famintos, desdentados e sedentos,
maltrapilhos, rotos e fedorentos,
todas as injúrias e desventuras têm.
De todos os buracos eles vêm
machucados, febris e cansados,
pobres, feridos e endividados,
rosto, nome, casa não têm.
De todos os becos escuros eles vêm
fugidos, cativos e marginais,
magros, desfigurados e desiguais,
todos os murros e pontapés têm.
De todas as favelas eles vêm
brutos, insensíveis e ignorantes,
cegos, surdos e errantes,
amores, vida e memória não têm.
De todos os escombros eles vêm
perdidos, esquecidos e empoeirados,
não cridos, mal nascidos e enfezados,
todos os rótulos e desprezo têm.
E vêm, de todas as partes e tons
sedentos, cansados, fedorentos e endividados,
marginais, ignorantes, desiguais e errantes,
a todos amedrontam com olhares e sons...
Diferentes ou não, são sempre a razão
do mal, da desgraça, da desmedida ambição.
Afinal, são eles os outros
a viver sem pedir permissão!