OS OUTROS

De todos os cantos eles vêm

famintos, desdentados e sedentos,

maltrapilhos, rotos e fedorentos,

todas as injúrias e desventuras têm.

De todos os buracos eles vêm

machucados, febris e cansados,

pobres, feridos e endividados,

rosto, nome, casa não têm.

De todos os becos escuros eles vêm

fugidos, cativos e marginais,

magros, desfigurados e desiguais,

todos os murros e pontapés têm.

De todas as favelas eles vêm

brutos, insensíveis e ignorantes,

cegos, surdos e errantes,

amores, vida e memória não têm.

De todos os escombros eles vêm

perdidos, esquecidos e empoeirados,

não cridos, mal nascidos e enfezados,

todos os rótulos e desprezo têm.

E vêm, de todas as partes e tons

sedentos, cansados, fedorentos e endividados,

marginais, ignorantes, desiguais e errantes,

a todos amedrontam com olhares e sons...

Diferentes ou não, são sempre a razão

do mal, da desgraça, da desmedida ambição.

Afinal, são eles os outros

a viver sem pedir permissão!

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 06/04/2013
Código do texto: T4226809
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