Poema da Impossibilidade

preto e pobre

criado para saber que não pode

espera a sorte e o tapa na cara

o garantido fio da navalha

o que sobra entre as migalhas

não pode a mulher

acreditou ser feio

não pode o emprego

acreditou ser incapaz

não pode o estudo

acreditou ser burro

o que pode esse preto?

agora a ordem das coisas se naturalizou

as amarras prendem

convertem-se em normalidade

nunca será de outro jeito?

bastará a solidão?

bastará a sobrevivência?

bastará a ignorância?

aceitara a alcunha de esforçado

como o seu máximo?

preto,

quantas correntes ainda precisam ser quebradas?