GENTE CONCRETO
Enganando a rotina sorria
Mas chorava à noite
Meu medo era de ter
Que deixar de ser eu
Ao conviver com as feras capitalistas
E os seres individualistas
Cada vez mais algozes
Coloquei uma armadura na cara
Assim eu me mascarei
Pra não ser engolida em rituais
De compra e venda
Em todo lugar o negócio era lucrar
Mais e mais
No escuro arregalava os olhos
Enfraquecida de tanto
Me fazer forte
Num mundo cada vez mais concreto
Eu que sentia tanto tanto
O gosto da chuva
O cheiro de mato
Minha música preferida
Um assobio de passarinho
Mas nesta cidade de pedra
Eu só escutava arranco de motores
Buzinaços de doutores
Donos das ruas e do asfalto negro
Me encolhia quando podia
Para me reconfortar
E não esquecer que era gente
Precisava de um abraço todo dia
Nem que fosse o meu mesmo
Nesse dia a dia tão duro
Ao toque do tic-tac
Tentava não ser máquina
E a luta que não cessava
Só acabava quando dormia
No aconchego do meu lar
Onde a família me recebia
Já transformada eu percebia
Foi tudo tão provisório
Era inevitável eu sei
Hoje eu sou mais um
Que vive ao clamor das horas
E do capital.