Necrose

Necrose

Certa vez

Eu vi um homem,

E ele estava só.

Assim como a noite

Tão escura,

Quanto suas ideias.

Não havia vida

Em seus olhos.

Não havia cultura

Em sua boca.

Tão vazio

Quanto o espaço

Que habitava.

Sobravam-lhe passos

Quando suas palavras

Findavam.

Suas vestes simples

Apenas refletiam,

A exclusão em que vivia.

Seus ouvidos cansados

Confundiam palavras,

Embriagados com tanta mentira.

Mesmo assim,

Este homem sobrevivia!

O cheiro que exalava

Facilmente se confundia,

Com sarjetas, esgotos, agonia.

Seus movimentos, lentos,

Não eram calculados,

Tal homem, não conseguiria.

Era fraqueza, luta!

Pelas sobras do meio dia,

Restos de uma sociedade

Rompida pela hipocrisia.

Não se via os traços de sua mão

Esfolada, os calos não permitiam.

Ao longe

Impossível saber,

Se era ele branco, preto ou amarelo.

Havia tantas vidas mortas

Naquele corpo, que dificilmente,

Algum sonho, sobreviveria.

Sim,

Eu vi este homem só!

Despido de toda carne podre ao seu redor.

Livre de pré-conceitos

Humilhado o suficiente,

Para não julgar.

Sem dinheiro, sem limites,

Sem crimes, para se condenar.

Este homem

Não tinha permissão da vida,

Para a morte lhe causar.

Não seria esta noite

Fria e só...

Que poderia repousar!

A sociedade uma vez mais

Teria que lhe usar,

Como exemplo!

Como lamento, como espelho.

De como um homem só

Embora livre!

Não lhe seja permitido

Chorar.