Proletária

Amo você,

De pés descalços,

Que sabe viver,

Além dos percalços.

Pés rachados de andar,

Caminhante de solos inférteis,

A miséria é seu lar,

Quantas ao abortar tornam-se estéreis.

Seu perfume é o suor,

Fragrância de proletária,

Alguns ao ver sentem dó,

Mas sua vida é labuta diária.

Enterrando filhos que não vingam,

Recebendo bofetadas de maridos,

Muitas morrem, porque minguam,

Outras sobrevivem sem incentivo.

Unhas comidas de produtos químicos,

Rosto com sulcos de precoces rugas,

Pés protuberantes, calosos, de solado rígido,

Sepultam amantes como doentes viúvas.

A dança trágica,

Que levanta poeira,

Nem sente raiva,

Reza para a padroeira.

Música que é lamúria,

Mãos para o alto,

Chão de realidade dura,

Olhos perdidos no asfalto.

Bocas de beijos arenosos,

Carinho rústico de espoliada pele,

Frases de motivos esperançosos,

Pensamento de sonhos que não há quem leve.

Som da roupa lavada,

Esfregação que causam dores,

Isso quando existe água,

Pra muitas, cactos são flores.

Mães e filhas com herança maldita,

Casadas sem príncipe encantado,

Apenas as ofensas ao cuidar da família,

É triste até a foto pendurada no porta-retrato.

Sua vaidade é de dona de casa,

Olhar meigo em face castigada,

Dorme para a vida passar mais rápida,

Ama mais do que qualquer história encantada.

Nomes que se repetem,

Como a sina do calvário,

Chora até que as lágrimas sequem,

Sofre por parir nesse mundo tão ingrato.

Dentes amarelos,

Sorriso fragmentado,

Alimentação de farelos,

Corpo que resiste aos maus tratos.

Mais do que filhas da miséria,

São também mães de miseráveis,

Fortalezas vivas durante eras,

Exemplos de máxima dignidade.