Roça de Cidade
Nesse pasto de asfalto,
Vejo rebanho de automóveis,
Defecando poluentes para o alto,
Bois de ferro que são velozes.
A colheita de produtos,
Só colhida plantando dinheiro,
Tornando meninos robustos,
Matando gente de bucho cheio.
Casamentos arranjados,
Coronéis de terno e gravata,
Casebres de favelados,
Salário que não dá pra nada.
Sente-se inveja de mendigo,
Já que esse vive da miséria,
Pois é farta a falta do povo sofrido,
Poucos se salvam nas clínicas médicas.
Carretas são bichos,
Que puxam carroças grandes,
Caminhoneiro sabe disso,
Um boiadeiro de possantes.
Cigarrinho de embalagem bonita,
Anúncio de câncer no verso,
Álcool em botecos a cada esquina,
Prostitutas ganham o pão fazendo gestos.
Máquina que coam, moem,
A eletricidade move os engenhos,
As contas nos bolsos doem,
A família não ganha para seu sustento.
Os bancos são os antigos armazéns,
Uma vez neles, nunca se paga a dívida,
Gerente é jagunço que mostra os dentes,
Também existe violência que exerce a polícia.
Nada mais de ladrão de galinha,
Agora é sequestro e arma na cabeça,
Estupro de homem e de mocinha,
Cada um come sua comida longe da mesa.
Sacerdotes pedem o dízimo,
No programa da televisão,
Beatos gritam com afinco,
No meio da multidão.
A carne já vem desmembrada,
O abate feito clandestino,
Celulares que despertam na madrugada,
Nada de galos repetitivos.
Fogo a gás para cozinhar,
Banho quente e bucha lisa,
Bicho preso para domesticar,
Em vez de voz, a campainha avisa.
Plantas embaladas e com corantes,
Agrotóxicos e aromatizantes,
Vagueiam os insatisfeitos retirantes,
O leite vem em pó, com duvidoso fabricante.
No computador inventamos uma natureza,
Cada dia procurando esquecer mais a vida,
Chuvas fertilizam os esgotos que transbordam valetas,
Pessoas se matam por pouco e a solidariedade é esquecida.