Bicho Estranho

Como e respiro

O resto do resto teu.

Ando pelo esgoto

E durmo com os ratos,

Companheiros meus.

Que me olham superiores,

Pois possuem todos os seus dentes

E suas posições definidas.

O que sou sequer sei

Mas eles se identificam com meu hálito,

Meus hábitos e meus ralos sapatos.

Apodreço sob as estrelas

E pelos dias me esqueço

Num buraco qualquer.

Talvez seja o bicho estranho

Que viste, naquele inverno,

Furtando a comida do teu cão...

Fechaste os olhos, lembras?

E aceitaste que era assombração.

Mas nem dói em mim a tua crença;

Tampouco importa a tua indiferença...

A selva age também em teu olhar,

Também matas pra sobreviver:

Os sentimentos, os sonhos e tudo

Que ameaça roer a corda do teu equilíbrio

Mas vives na corda bamba...

Livre sou eu.

Não tenho sentimentos,

Não tenho sonhos.

Sou mesmo um bicho estranho,

Com poucos dentes

E muita fome.