Sou o índio camuflado de mato

Sou o índio camuflado de mato

Contra os senhores que tatuam escrituras

No corpo da terra,

Sou o bicho com medo, fugindo sem lado,

Pois se vê acuado, correndo sem pernas.

Sou a cobra apedrejada e amaldiçoada

Por rastejar a milênios no mesmo lugar,

Eu sou a velha árvore espinhosa e pequena

Que foi derrubada pelo avanço industrial,

E também sou a criança que nasce e cresce

No lixo enfeitado,

Olhando para tudo como descartável.

Eu sou o carro do ano passado,

Que foi trocado e substituído

Por mais poluição,

Eu sou o inútil elevado ao status máximo,

Eu sou o tédio influente da televisão,

Eu sou o filho cristão não abortado,

Mas abandonado à sua própria miséria e solidão,

Sou o criminoso viciado que te espera

Para o assassinato, o beijo ou a prisão.

Sou a criança enrolada nos trapos da história,

Eu sou a glória dos criadores de gabinetes,

Sou mais um enfeite nos documentários

Sobre a vitória,

Mas carrego a derrota entre meus pertences.

09/09/2007

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 28/11/2011
Reeditado em 28/11/2011
Código do texto: T3360598