Sou o índio camuflado de mato
Sou o índio camuflado de mato
Contra os senhores que tatuam escrituras
No corpo da terra,
Sou o bicho com medo, fugindo sem lado,
Pois se vê acuado, correndo sem pernas.
Sou a cobra apedrejada e amaldiçoada
Por rastejar a milênios no mesmo lugar,
Eu sou a velha árvore espinhosa e pequena
Que foi derrubada pelo avanço industrial,
E também sou a criança que nasce e cresce
No lixo enfeitado,
Olhando para tudo como descartável.
Eu sou o carro do ano passado,
Que foi trocado e substituído
Por mais poluição,
Eu sou o inútil elevado ao status máximo,
Eu sou o tédio influente da televisão,
Eu sou o filho cristão não abortado,
Mas abandonado à sua própria miséria e solidão,
Sou o criminoso viciado que te espera
Para o assassinato, o beijo ou a prisão.
Sou a criança enrolada nos trapos da história,
Eu sou a glória dos criadores de gabinetes,
Sou mais um enfeite nos documentários
Sobre a vitória,
Mas carrego a derrota entre meus pertences.
09/09/2007