O Segredo
Treze anos de idade,
Talvez menos,
Já tem certa maturidade.
Pensa sobre o vivido,
Um feriado passado,
Momento inesquecível.
Ainda não provando mulher,
Ansioso pelo primeiro afago,
Ávido por um suspiro qualquer.
Acolhido por ditos amigos,
Contemplando ares praieiros,
Vento no rosto e mar infinito,
Molhava os pés com respeito,
Passeava para conhecer novos sítios,
Desbravava dunas sem medo.
Sonho que vira pesadelo,
No lar que tido como abrigo,
Suspeitas infligem desespero.
Olhares furtivos,
Gestos dissimulados,
Sente-se coibido.
Sem a família por perto,
Entregue a estranhos,
Não sabe se o que faz é certo.
Deitado com seu corpo jovem,
Menino desabrochando,
Virilidade em idade precoce,
Sem pelos à mostra decorando,
Um virgem em rústico retoque,
Com a masturbação despontando.
Numa dormida acompanhada,
Companhia não desejada,
Homem de mãos calejadas.
Toca-lhe causando asco,
Como por vil brincadeira,
Invadindo seu espaço.
Pelos mal cheirosos,
Hálito impertinente,
Hábitos indecorosos.
A quem recorrer?
Diante do facínora,
Que o faz ceder,
Abrindo a braguilha,
Mostrando endurecer,
Apalpando sua virilha.
Encostando-lhe o membro duro,
Tocando-o dentro da cueca,
Mostrando-lhe desejos absurdos.
Tão infantil, quem lhe acreditaria?
O temor causa-lhe passividade,
Um molestador que não cedia.
Lençóis baratos masculinizados,
A adrenalina do flagrante,
Insistência do sujeito excitado.
Indefeso, fragilizado,
Tenta extrair algum prazer,
Seu pensamento abstrato,
Move a mente para outro ser,
Não está mais no quarto,
É vítima que tenta sobreviver.
Aqueles beijos barbeados,
Língua de sabor pútrido,
Saliva que engole em engasgo.
Boca de nojenta saliva,
Prova sua tez pálida,
Sente escorrer a baba nociva.
Toca-lhe o membro,
Fazendo-o repetir o gesto,
Anda devagar o tempo.
Num rompante de desejo,
O pederasta lhe abre os lábios,
Fazendo-os num imposto beijo,
Provar seu repudiante falo,
Tenta escapar de algum jeito,
Mas com força é brutalmente dominado.
Pensa que será penetrado,
Feito de passivo macho,
Mas apenas roça-lhe o rabo.
Criança perdendo a dignidade,
Exposta a sexual vulgaridade,
Bolinada em tenra idade.
Passam os dias de fevereiro,
Aprisiona no seu peito,
Esse odiado segredo.
Não sabe até que ponto foi cúmplice,
Sente-se culpado por permitir,
Deveria ter revelado em brava atitude,
Mas apenas se entregou até o fim,
Ainda com o gosto insalubre,
Arrepia só de relembrar o ato em si.
Tem dúvidas se é devasso,
Até onde foram os pensamentos?
Conseguiria viver sossegado?
Alguns momentos o excitaram,
Angústia por conceber tal coisa,
Nunca seus pais algo assim explicaram.
Compactuou com o depravado,
Agora virou adolescente explorado,
Olha no espelho se enxerga tarado.
Seu mistério o torna calado,
Um dia pode quem sabe solucionar,
No íntimo às vezes se vê frustrado,
Pela experiência que veio a lhe perturbar,
Concebe como algo ainda a ser superado,
Quando deita pensa alguns dias em não acordar.