RETRATO SEM BANDEIRAS

A cota não chegou para aquele menino sujo

Maltrapilho, cheirando cola na avenida Liberdade

Sentado na calçada pedindo esmola

Na porta da escola para comprar um lanche

Estudantes passam apressados atrás de notas

Trabalhadores tentam se equilibrar na corda bamba

Donas de casa pesquisam preços magros

No gordo supermarketing onde tudo vira produto

A cota não chegou para aquele menino

Que poderia ser eu, você, seu irmão, seu filho...

Não chegou nem vai chegar

Ele não é Sem-Terra, Sem-Teto, Sem-Universidade

É somente um sujo menino de rua

Maltrapilho, cheirando cola na avenida Liberdade

Sem partido, sem voto, sem movimento

Clamando ajuda para o seu sustento

Publicado originalmente em Cadernos Negros 29, poemas afro-brasileiros, Edição Quilombhoje, 2006.

OUBÍ INAÊ KIBUKO
Enviado por OUBÍ INAÊ KIBUKO em 20/12/2006
Reeditado em 20/12/2006
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