LAMENTO CENTRAL

O trem encosta na plataforma

a massa se descomprime

em passos apressados

esperançosos

cada um procura seu rumo

seu caminho

seu destino...

No canto esquerdo da estação

mulatos

pardos

negros

em grupos vão se encostando

cada vez mais aumentando...

É a polícia

na sua opressão diária

mais uma vez nos desmoralizando...

Como é duro ser negro!

Como é duro viver

numa falsa terra

calado

a morrer

sem direito a guerra...

Sem direito a ser gente

ser visto

apenas como burro

bêsta

lixo

sem poder seguir em frente

ser encarado como bicho...

Como é duro ser negro!

Ser negro?

Ah, como é duro!

Estação do Brás - 07:40 da manhã

Publicado originalmente em SOBREVIVÊNCIA, poemas, Edição do Autor, São Paulo, 1980.

OUBÍ INAÊ KIBUKO
Enviado por OUBÍ INAÊ KIBUKO em 13/12/2006
Reeditado em 13/12/2006
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