LAMENTO CENTRAL
O trem encosta na plataforma
a massa se descomprime
em passos apressados
esperançosos
cada um procura seu rumo
seu caminho
seu destino...
No canto esquerdo da estação
mulatos
pardos
negros
em grupos vão se encostando
cada vez mais aumentando...
É a polícia
na sua opressão diária
mais uma vez nos desmoralizando...
Como é duro ser negro!
Como é duro viver
numa falsa terra
calado
a morrer
sem direito a guerra...
Sem direito a ser gente
ser visto
apenas como burro
bêsta
lixo
sem poder seguir em frente
ser encarado como bicho...
Como é duro ser negro!
Ser negro?
Ah, como é duro!
Estação do Brás - 07:40 da manhã
Publicado originalmente em SOBREVIVÊNCIA, poemas, Edição do Autor, São Paulo, 1980.