Assalariado

Chegado o dia do pagamento,

Sujeito conta o dinheirinho,

Quase não teve divertimento,

Custa receber seu salarinho.

O "corinho de rato" suado,

Fica feliz o pobre coitado,

Sabe o que foi sacrificado,

Ainda consegue sentir-se grato.

O "faz-me rir" vem no fim de mês,

As contas com péssimo hábito,

Chegam antes com juros de burguês,

Essa é a vida do assalariado.

Antes eram os escravos,

Esses tinham mais direitos,

Agora o proletariado,

Vive em misério, em guetos.

Recebe a "bufunfa" magra,

Olha triste pra família,

A mulher não mais agrada,

Não enche mais a barriga.

O "capilé" chega uma hora,

Mas nunca na hora certa,

E pensa no que fazer agora,

A sua tristeza logo desperta.

É a "grana" que cantaram:

"na mão ser vendaval",

Se iludiram, doces crianças,

Voa antes de tocar a mão serviçal.

"Money" diz o estrangeirismo,

Mas fora do Brasil não é diferente,

Chamam de muitos "ismos",

Mas a miséria é igual pra muita gente.

O "pagodinho" na carteira,

Mas sem ritmo gostoso,

Provoca muita choradeira,

Muito pai de família em desgosto.

Podemos chamar de "faz-me chorar",

Quem sabe "faz-me rir pouco",

Mas nem adianta ir no sindicato reclamar,

A lei trabalhista ainda favorece um ou outro.

Nossa tão sonhada Democracia?

Tantos "demos" que me confundo,

Nem quero pensar na aposentadoria,

Morremos antes pra ter dignidade no túmulo.

A pecúnia miserável mensal,

O soldo plebeu que nos avilta,

O capital que nos faz de roto animal,

Moedas que tornam de ferro nossa alegria.

Vendemos nossa dignidade,

A oferta é simples e barata,

Construímos uma sociedade,

Que depois cospe a nossa cara.