Surras
Desde pequeno,
Escuto a frase,
Para deixar atento,
A surra é necessidade.
Assim cresce a lição,
Pedagogia da pancadaria,
Rigorosa a educação,
Batendo até com alegria.
Herança passada a cada geração,
Hoje bate na cara do filho,
Que amanhã desconta no irmão,
O neto herdará o doloroso castigo.
Se fizesse inteligência por apanhar,
Muito animal de carga estava sapiente,
Mas a dor só serve para intimidar,
Poder imposto pela força de um impotente.
O pai que bate hoje,
Amanhã será o idoso rejeitado,
Se ao filho amar não soube,
Como pode esperar futuro resultado.
A geração contemporânea é dita rebelde,
Alguns salientam a falta dos sopapos,
Não é de hoje que o jovem se enfurece,
Esses mesmos conservadores fizeram estrago.
Crianças traumatizadas são o resultado,
Basta ver nossos pais assim educados,
A postura já demonstra o fiasco,
Ainda posam de moralistas bem formados.
Não se enganem com esse discurso,
Violência não melhora o ambiente,
O mundo já demonstra o infeliz absurdo,
Repleto de intolerância entre imprudentes.
Apelam à prática de outros animais,
Não se chama isso violência, não se iludam,
Atacam por instinto e nada mais,
Não se matam porque como nós não se aturam.
Temos nosso Estado,
Age com rigor,
Se faz de nosso advogado,
Intitula-se punidor.
O marido alcoólatra age sobre a mulher,
Mas será apenas a bebida que explica?
Pois esse machismo se assim puder,
Espanca até sem ter o que justifica.
O medo não é educacional,
Apenas faz reprimir,
Para depois explodir desproporcional,
Com efeitos que não se pode medir.
E as crianças estupradas,
Espancadas até a morte,
Nessa guerra são mutiladas,
Sobreviver é uma sorte.
Tem coça pra todo gosto,
De cinto, chinelo, tapas,
Antena de tv, livrada, socos,
Ferro de passar e outras tralhas.
Não bastasse as porradas,
Ainda existe surra moral,
Humilhando a gurizada,
A covardia é sem igual.
Comércio de bordoada,
É permuta prejudicial a ambos,
Quem bate e quem recebe a bofetada,
Numa hora tudo vai desmoronando.
O filho encolhe quando a mão levanta,
Feito cachorro doméstico de medo encolhido,
Depois que crescer pedir desculpa não adianta,
Um dia vai também bater sem saber o motivo.