ANJOS NA NOITE

Numa vil incoerência e demagogia

vêm acusar os sem casa de mandriões

dizem que trabalhar ninguém queria

que são mal fadados e sem corações.

Quem com dois dedos de testa

pode fazer abuso de quem nada tem

dizer que gente desta não presta

que são abusadores de alguém?

Mendigos dobrados pelo meio

sem casa nem tecto que se socorrer

dormem na rua com o algoz do peio

e lhes esventrar a carne a arder.

O estado e o governo não querem saber

pois seus olhos desviam-se da verdade

e no frio chão jaz a fenecer

mais um que da vida perdeu a vontade.

Não têm pensões são apenas números

que não contam para os censos

em cada estrada em cada canto inúmeros

são os casos de não senso.

Os governantes não falam deles

têm-nos por escória desprezível

vagabundo que és só peles

há quem te cuide na noite aprazível.

São eles os chamados anjos da noite

que distribuem café comida e cobertas

no estômago vazio a refeição é açoite

que satisfaz por momentos as chagas abertas.

O nómada repara em tudo isto com um riso

sabe que depois desta refeição acabou

e que tem de esperar nova noite com siso

ao relento e à chuva que não amainou.

Mas vir dizer mal em versos a estas pessoas

é poetaço de mal com a vida

pois não chega a ser poeta o que ecoa

da estúpida pena que lhes é indevida.

Jorge Humberto

21/05/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 21/05/2011
Código do texto: T2983996
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