Um Dia Comum

Acordar, abrir os olhos remelentos,

Bocejar e sentir aquele gosto de saliva seca,

Levantar, um pé após o outro, sonolento,

Ir para a pia do banheiro, água fria saindo da torneira.

Pegar aquela creme dental que dá náusea,

Escovar os dentes, sentar na mesa,

Tomar café com pão dormido e dar uma pausa,

Olhar pro vazio do dia comendo manteiga.

Voltar ao banheiro e escovar de novo os dentes,

Abrir a privada e mijar segurando o pinto,

Desprendendo uns pentelhos pela ambiente,

Deixando cair mijo do lado de fora do vaso limpo.

Sair sem lavar as mãos, retirar o short de dormir,

vestir uma calça, camisa e sapato, por baixo cueca,

Abrir e fechar de portas que te fazem de casa sair,

Encontrando a rua cheia de gente de existência incerta.

Cruzar com velhos fazendo ginástica de manhã,

Os passarinhos cantando, piado repetido igual alarme de carro,

Esperar o ônibus no ponto, um estudante segura uma maçã,

Um sujeito fuma um cigarro e absorvo a fumaça que me causa pigarro.

Entro no coletivo lotadamente coletivizado,

Braços erguidos tentando se sustentar,

Motorista a toda para cumprir o tempo estipulado,

Cyheiro de colônia barata e gente a suar.

Vidros fechados embaçando com barulho de tosse,

Mulheres de roupas curtas com pernas expostas,

Homens de olhos vidrados nos belos decotes,

Idosos expremidos e grávidas quase pondo o filho pra fora.

Tenta-se ler no vai e vem do transporte,

Chega no destino e vai em direção ao trabalho,

Chega na empresa e marca o ponto a tempo, que sorte,

Começa a labuta pensando que o dia vai ser um saco.

Os mesmos rostos diferentes a cada dia,

Os uniformes dando uniformidade ao rito,

Vez ou outra a mulher do patrão anima,

Muito operário queria fodê-la como é fodido.

Horário de almoço é aquela comida comum,

Papel alumínio emalando o prato cheio,

Comida misturada feito ração pra um porco incomum,

Tempinho curto de descanso, adorável recreio.

Final do expediente e vem o cansaço,

Muito aborrecimento ao longo do dia,

Mais uma lotação para deixar o trabalho,

Tudo se faz para conseguir a pecúnia.

Chegando em casa aproveita o seu tempo não vendido,

Liga a tv com programação que faz um sujeito cometer suicídio,

Uma revista pode render uma boa punheta ao iludido,

Come-se exageradamente para compensar a merda de almoço comido.

Encontra alguns amigos do bairro,

Falam sobre alguém que roubou uma loja,

Conversa de fofoqueiro básico,

O ladrão de verdade a cada dia nos explora.

Não bebe uma cerveja durante a semana,

Pode afetar o descanso, que reflete no emprego,

Emprega-se toda a força para ter a vida ganha,

Mas perde-se a vida inteira e não se ganha o maldito dinheiro.

Em certos dias ainda pode fazer sexo com alguma mocinha,

Alguns só pagando para aliviar a tensão sexual,

Existem os que buscam outras fugas, como a cocaína,

Mas muitos são mortos-vivos com renda salarial.

E quando vai deitar, pensa que no outro dia recomeça,

Nem consegui domir direito, o sonho é fragmentado,

Acorda e pensa que a vida é mesmo essa merda,

Mas acaba se reerguendo e indo para seu serviço assalariado.