Noite de Natal
Era uma noite de natal,
Família toda reunida,
Momento sem igual,
Muita bebida e comida.
Parentes que não se viam o ano todo,
Ali estavam todos sentados,
Em comunhão, rancores lançados ao fogo,
O afeto era comemorado.
Os mais velhos eram respeitados,
Os jovens tinham suas queixas,
As crianças, rebentos despreocupados,
Harmonia que não arrefecera.
A mesa era farta de guloseimas,
Mesmo assim alguns faziam churrasco,
Todos os tipos e gostos de bebida,
Festança glutona ocupando todo o espaço.
Um ano de brigas mesquinhas,
Num dia tudo se resolve entre afagos,
Mesmo que sejam de hipocrisia,
Naquele instante todo o resto é passado.
O comércio aflora excitando o consumismo,
Todos desejam comprar ou serem presenteados,
Quem não recebe ou dá sente certo inconformismo.
São as regras sociais a que estamos todos relegados.
Os animais que sofrem na festança,
Matam sem dó alguma para comemorar,
Seja peru, bezerro, galinha, tudo para encher a pança,
Sacrifícios para honrar nosso modo de felicitar.
Ainda existem as aculturações,
Seja o pinheiro com algodão fingindo ser neve,
Enfeitos e outras decorações,
Tradições que vão se firmando e não há quem renegue.
Papai Noel, figura que mais parece um pedófilo,
Deixa os meninos pobres a “ver navios”,
Com aquele ar de desmazelo, fingindo sem estóico,
É uma farsa feito o aniversariante Jesus Cristo.
Muitos acreditam na história religiosa,
Interessa ao papa e sua missa do galo,
A meu ver foi coisa de mente astuciosa,
Assim nascem os mitos, mentiras e poucos fatos.
Uns passam até mal de tanto comer,
Chegam a vomitar no outro dia ou no próprio evento,
Regurgitando sua futilidade em absorver,
Fazendo dívidas para fantasiar um falso momento.
A bebedeira então nem se fala,
Uns esquecem até quem são no coma alcoólico,
Bebe-se enquanto a bebida não acaba,
Vem a ressaca e todas as lembranças de teor melancólico.
Sempre existe uma choradeira,
O porre ajuda a florar os sentimentos,
Outros se exaltam, arrumam briga e zoeira,
Noite que pode ser um saco ou puro divertimento.
Sempre existem alguns que desejam alguma outra noitada,
Seja um boate para beber mais e dançar ou um motel,
Mais alucinados por entorpecer ou uma boa trepada,
Outros preferem ficar com a família, a honra está em ser fiel.
Existem os presentes comparados,
Uns dizem que ganharam algo que gostaram,
Outros que odeiam o que haviam ganhado,
As lojas vão trocar os infortúnios que desagradaram.
A festividade começa na véspera,
Se prolonga no outro dia, comemoração de dois dias,
Comem as sobras do que resta,
Parece que o mundo vai acabar e consomem feito praga faminta.
Sempre existe algum mais religioso que faz uma citação,
Até recordam de quem passa fome e vive na miséria,
Mas voltam a seu prazer glutão sem nenhuma aflição,
Afinal, não é culpa de nenhum deles, faz parte da sociedade megera.
A música não pode faltar,
Sejam as canções chatas natalinas,
Ou ritmos de empolgar,
Coisa mais dançante que fascina.
Sempre tem algum parente que se fantasia,
Papai Noel fora de esquadro,
Um dia a criançada acaba descobrindo a mentira,
Um ano o velho é gordo e noutro magro.
As casas iluminadas dando foda-se ao desperdício elétrico,
Economizar que nada, querem ter sua luminosidade artificial,
Feito os muitos sentimentos que imperam no dia de armar o presépio,
Depois a conta vem alta e começam o ano reclamando do gasto mensal.
Os olhares denunciam os sentimentos,
Seja daqueles parentes que não se gostam,
Ou dos primos enamorados, mas com comedimento,
As crianças falam e com moralismos nem se importam.
Alguém acaba rememorando fatos, agradáveis ou não,
Pode causar proximidade ou tremenda confusão,
Dá 0:00hs. e vem o momento do apaziguamento, o abração,
Isso ocorre pontualmente, nem importa se é horário de verão.
O amigo oculto é reservado para horários tardios,
Ainda mais se o pileque for generalizado,
Ficam aqueles palpites e tramas de prazer doentio,
O confronto é feito velado, acaba sendo engraçado.
Uns dormem mais cedo e outros madrugam,
Esperam o dia amanhecer ou nem mesmo dormem,
Depois as notícias de imprudências que arrumam,
Acidentes de trânsito e muitos não resistem e morrem.
Mas no final fica o ritual de passagem,
Onde celebramos a familiarização burguesa,
Mesmo em meio a tanta rapinagem,
Fica o discurso pomposo de moral benfazeja.