Prostitutas

A prostituição existe desde tempos remotos,

Não se pode datar com precisão quando,

Nem mesmo onde por definição de filantropos,

O que facilitou surgir esta arte humana,

Onde se disseminou os diversos focos.

Chamar de prostituição tempos primevos,

Demonstra ingenuidade do narrador,

Anacronismo de um conhecimento primeiro,

Armadilhas conceituais que uma historiografia

Consegue apresentar sem muito zelo.

O fato é que a arte de barganhar com o corpo,

Por mais que a mente procure alcançar,

Não se pode afirmar com precisão de tempo,

Mas pode-se deixar a mente captar,

O que foi passivo de apreender como registro.

Se formos até a Mesopotâmia nos depararemos,

Com as sacerdotisas de Inanna sem nossos pudores,

Moral diferente da nossa, que não concebemos,

Sexo como oferenda a deuses que antecedem

O nosso monoteísmo castrador de momentos.

Podemos ir ainda mais longe na esfera temporal,

Onde o domínio feminino evocava deusas,

A mulher era vista como o elo mais sublime do natural,

Com sua fertilidade misteriosa e dominante,

Responsável por assegurar a continuidade existencial.

As primeiras representações arquelógicas encontradas,

Chamadas de Vênus como epíteto sublime,

Fósseis de uma natureza “primitiva” desvelada,

Evocando as forças femininas,

Outrora, como ritos em que foram consagradas.

Pensar nos egípcios, com sua Ísis ascendendo,

Onde mesmo Amon-Rá foi coagido por sua força,

Que emocionou os deuses com teu sôfrego lamento,

Ou mesmo Cleópatra que ficou tão conhecida,

Por exercer seu reinado e ter seu lugar de destaque junto ao templo.

Mesmo as vestais, prostitutas de caráter mítico,

Homenageando Vênus Romana,

Com teu sexo do mais puro ato divino,

Fazendo emergir a herança grega de Afrodite,

Por sua adoração em forma do mais inebriante regozijo.

Mas vieram as castrações de um religião que domina o corpo,

Coloca o indivíduo em cárcere a partir de uma moral,

Baseada em um deus, nas palavras de Nietzsche: “Morto!”,

Onde a implantação de uma monogamia institucionalizada,

Com ritos medievos onde se punia hereges através do fogo.

A prostituta resiste, sofisticando sua conduta social,

Continua muito requisitada, mesmo entre o alto clero,

Mas agora possui uma atividade marginal,

Teu sexo se torna velado por representar

O que era contrário a ordem e considerado como mal.

Segundo Schopenhauer, sem a prostituição

Não existe monogamia que resista,

Pois ela regula as práticas sexuais de “traição”,

Impelem o sujeito a praticar atos,

Que a moral vigente chama de fornicação.

A prostituta também se adequa ao mercantilismo,

Torna seu corpo um bem consumível,

Vira moeda de troca em um complexo fetichismo,

Como expõe Bourdieu sobre tais práticas,

Procura atender com seu capital corpóreo as demandas do capitalismo.

Em nossa sociedade ainda é vitimada,

Sofrendo preconceito atroz,

Da hipocrisia dos que servem-se de tal “empreitada”,

Servindo como um bode expiatório moderno,

De uma moral castradora, corrompida e divinizada.

Quantos garotos não se iniciaram nos prazeres,

Através destas mulheres de natureza forte,

Que não deixaram de cumprir perante às sociedades, seus afazeres,

Com seu esoterismo que faz as mais recatadas,

Desejarem ser comparadas às mesmas entre quatro paredes.

Mulheres que cumprem sua rotina social,

Em dado momento estão diluídas na multidão,

Para depois emergirem de forma fenomenal,

Com sua maquiagem extravagante, vestimentas provocantes,

Hábitos vulgarizados e prazeres que seduzem até o hermetismo clerical.

Desvendaram os mistérios da carne,

Não irão se dispor ao infortúnio de ser consorte,

Simularão desejos para um sedutor e feroz ataque,

Aos costumes que escravizam o cidadão-moral,

Para despertar a mais natural libido, como forma de resgate.

Filhas de um sexo corrompido,

Alegres damas de olhos tristes,

Com humor de caráter vítreo,

Maneiras dissimuladas,

Corpos que atraem sem compromisso.

Lingeries que acentuam os dotes femininos,

Palavras soltas que enaltecem sua presa,

Arte humana executada com afinco,

Deixando os lares familiares harmoniosos,

Além de movimentar um mercado repleto de simbolismos.

Homens se renderam a arte da prostituição,

Existem muitos que se aventuram neste mercado,

Ocorreram diversas modalidades, inclusive tornar-se contravenção,

Criaram atos como a pedofilia, alimentada pelos mesmos

Pais de família que chama-na de perversão.

Aturar os clientes sujos de uma imundície moral,

Corrompidos pelo prazer intransponível da libido,

Marginalizados como consumidores de algo imoral,

Com seus falos pulsando por vulvas que se deixam dominar pelo dinheiro,

Senhores simulados, asquerosos à serviço da indulgência capital.

O mundo das drogas ilícitas também se mescla

Em nossa contemporaneidade à prostituição,

Voltando a refletir sobre uma contradição manifesta,

O mercado consumidor e lucrativo que estas atividades

Fomentam com uma falsa propaganda contrária e esteta.

Quantos filhos não desejam ou estarão com prostitutas?

Quantos pais não aproveitaram os prazeres secretos?

Quantas mães não se prostituíram para sobreviver e agora são chamadas de putas?

Quantas filhas seguirão o hábito?

Quantas sociedades alimentarão esta forma de conduta?

Relegadas à esquinas sombrias na madrugada,

Casas de família na surdina,

Motéis que absorvem o vai e vem de uma noitada,

Carros, becos e outros cantos que caibam clandestinos sexuais,

Luxuosas avenidas de Paris, Holanda, EUA, Alemanha ou quem sabe Itália.

Não se pode esquecer dos bordéis paradisíacos, repletos de profissionais do sexo,

Com seu esplendor que faz gerar certa atmosfera mafiosa,

Com clientes de todo tipo, por certo,

Música alta, risadas espalhafatosas, bebidas, algazarra,

Uma realidade à parte com aroma sufocante desperto.

Teatro dramático da realidade em sua forma mais vil,

Humanidade saliente em uma composição de gênero predatório,

Personagens de uma simulação marginal varonil,

Recantos de motivos fúteis, de tragédias que compõem magnífica epopeia,

Suscitando recônditos arquétipos que a prostituta com sua magia sexual atingiu.