Cinema
Sala escura,
Tácita penumbra.
Poltrona macia ou dura,
Tela esticada ou curta.
Ingresso comprado,
Tenho esperado,
Fila entrando e saindo,
Sem fila, espavorindo.
Lazer alegre,
Talvez drama.
Há quem negue
Este ótimo programa.
Várias cadeiras,
Frívolas fileiras.
Várias cabeças enfileirantes,
Expressões, gestos itinerantes.
Ansiedade demonstrada,
Atenção prostrada.
Padrões de espectador passivo,
Ar lúgubre e lascivo.
Me calo,
De fato.
A tela aqui fala,
Voz silencia, abafa.
Fale baixinho,
Bem pertinho,
Desligue este celular,
No cinema, deve-se silenciar.
Namore discreto,
Beije perto,
Faça até mesmo sexo,
Mas permaneça quieto.
A tela diz,
Você condiz.
As imagens que falam,
Os espectadores se calam.
O filme começa,
A pessoa inquieta.
O momento, agora chegou,
Seu triunfo, o que aguardou.
Sorri e chora,
Emociona, esbraveja,
Drama que nos assola,
Virtualismo que nos consola.
Contemple a tela,
Esqueça os bastidores.
Esta se tornou sua querela,
Aqui viverás amores e dissabores.
Virtual sentes,
Real ignoras.
Emoções que iludem e mentem,
Imagens que lhe prendem, horas.
Coma pipoca,
Siga a tradição.
Se entorpeça dessa droga,
Sofra sua real alucinação.
Máquinas de imagens,
Rolos e engrenagens.
Mecânica que preenche o olhar,
Nuança da perspectiva do que há.
Cheiro de mofo
E queijo parmesão.
Me sinto dentro de um fosso,
Um ausente-presente, sem direção.
Espetáculo nauseabundo,
Beirando o absurdo.
Drama do nosso homem contemporâneo,
Sensações e aspirações do mundo coetâneo.
Maravilhas da modernidade,
Pré pós-modernidade.
Arte para alguns erudita,
Para outros, angustia, constipa.
Que arte?
Que classe?
Serve apenas interesses de burguesia,
Outros contentam-se com sobras, pirataria.
Nobre arte,
Sem contestação.
Apesar de injustiças sociais destarte,
Também fomenta no povo erudição.
Sétima arte,
Assim o chamam,
Conforme a cabala, na sétima parte
E as sete notas que nos encantam.
Cinema computadorizado,
Cinema mudo,
Cinema simples e popularizado.
Cinema extemporalizante, absoluto.