DO OUTRO LADO DA CIDADE
Do outro lado da cidade
distante do mar
das barracas multicores
das flores morenas queimadas de sol
existe uma estrada por onde passa o trem...
Dentro do trem
existem bancos ocupados
por seres sofridos
calados
cansados
que adormecem para poder sonhar...
Do lado de fora
árvores passam correndo
e o barulho incessante do trem
entrando pelas janelas semi-abertas...
E o vento quente
abafado...
E o povo suado
espremido
oprimido...
Do outro lado da cidade
distante dos condomínios fechados
das butiques
dos letreiros luminosos
existem ladeiras de barro
ruas escuras
e uma pracinha pobre
com um coreto antigo
apagado pela marca do tempo
esquecido simplesmente por se achar
do outro lado da cidade...
Não existem sorrisos abertos
- existem sorrisos tristes...
Não existe a alegria de ficar
- existe o cansaço de chegar...
Do outro lado da cidade, meu senhor, existe gente
querendo ser gente um dia!