Canavial de Lamentações
O vento sopra. Sinto que sopra.
Tento fugir, eu não posso.
Estou preso entre quatro paredes.
Tento fugir, mas não posso.
Quem me dera ser uma ave,
Poder voar dessa prisão.
Sinto ser livre, mas estou preso.
Que dó me dá, que dor que sinto.
Queria ser um tatu.
Enterrar-me no chão, esconder-me.
Esperar que o vento passe.
Que tudo queime, e possa então fugir.
Mas não posso. Não tenho asas,
Não sou tatu. Não sou homem.
Sou paca, sou capivara, sou cobra.
Sou bicho da nossa mata.
Tento fugir, mas o fogo vem,
Queima tudo. O vento sopra dos quatro cantos.
E sinto que deveria fugir.
Eu tento. Mas não consigo.
É tarde demais: a parede é indestrutível.
Quem me dera ser gavião.
Quem me dera ser tatu.
Quem me dera ter nascido morta.
Quem me dera ser homem,
E que o homem, bicho fosse.
Quem me dera tantas coisas,
Agora tira a única que me resta.
"Leiam minha apresentação: http://www.recantodasletras.com.br/cartas/2394709"