A ILUSÃO CAPITALISTA
“Porque gado a gente marca Tange, ferra, engorda e mata. Mas com gente é diferente… Se você não concordar, não posso me desculpar. Não canto pra enganar; vou pegar minha viola, vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar.” (Chico Buarque, 1968)
Do empresário ao catador de papelão
Do gerente ao faxineiro
Do fazendeiro ao campesino
Do gravatinha ao pé-no-chão
Do padre ao fiel
Do pastor à “ovelha”
Não importa a religião
Seja espírita ou católico
Judeu ou muçulmano
Budista ou protestante
Maçom ou testemunha de Jeová
Não importa a origem
Seja Candomblé, Umbanda ou Quimbanda
Toda crença tem seu fim
Levar o cidadão à mais completa alienação
Toda idéia de revolução é contra o capitalismo
Por isso os empresários a odeiam
Pois defendem seu capital
Seja de giro, especulativo ou inicial: não importa
Todos têm o mesmo fim
Deixar o pobre mais pobre e o rico com mais dim-dim
É por isso que toda idéia crítica e revolucionária
É sempre vista como perigo
Para quem detém o capital
Por isso tem que ser refutada
Dizem os conservadores
Que trabalham pelo sistema
Mantendo a exploração
Do padre ao professor
Todos seguem a mesma cartilha
De um regime opressor
Que tira do pobre o pão
Para alimentar animais de estimação
Enquanto criança de rico passeia
Filho de pobre ta no farol
Desprovidos de dignidade
Sonhando em ser cidadão
Por isso toda idéia revolucionária
Precisa ser combatida
Pra não haver motins
Pelas ruas da cidade
Nem no campo nem nas praças
Quem protesta é baderneiro
Diz a voz da alienação
Quem sabe de um companheiro
Traidor dos seus iguais
Que sonha em ficar rico
Mas está de pés descalços
Comendo farinha seca
E ainda acreditando
Na ilusão capitalista
De que todos são iguais
Mesmo com tantas diferenças
Meu Deus, quanta mentira
Acreditar nessa besteira?
Igualdade para o pobre?
Só existe em cemitério
Na terra do pé-junto
Lá sim há igualdade
Tem até reforma agrária
Sete palmos de terra
É direito que todos terão
Quando os olhos se fecharem
Será o fim da exploração
Mas pobre não deixa herança
Exceto suas dívidas
Mas filhos de patrão
Tem herança garantida
Até a última geração
Herança de pobre é ter filhos
Pra servir de mão-de-obra
Fazendo perpetuar o lucro
Multiplicando a riqueza
Á custa do suor de quem trabalha
Do operário em construção
Que um dia será liberto
Ao reconhecer que seu valor
Está em tudo que faz
Então pode virar o jogo
E mostrar para o patrão
Que o capital não faz um homem
Mas o homem que opera a máquina
É muito mais importante
Que o capital que produziu
Viva a revolução!
Arguiu bem forte o operário
O operário em construção.