DESENCANTO
E calei-me
E deixei-me
E entreguei-me
E zerei-me até não poder mais
Diante do tédio dos homens
Diante das horas absurdas
Diante do nada e do nada e de coisa nenhuma
Diante do escombro e do silêncio
E silenciei o grito
E amordaçei a vontade
E prendi o choro
E zerei a mim até não poder mais
Diante do medo dos homens
Diante da covardia dos seres
Diante do nada e do nada e de coisa nenhuma
Diante do cansaço e da derrota
E sei que a poesia nada mais diz
do que um sussurro e uma brisa marinha
um esforço último de dizer o amor
mas os homens, preocupados com os edifícios,
não podem escutar o canto
nem mesmo a própria voz