DESENCANTO

E calei-me

E deixei-me

E entreguei-me

E zerei-me até não poder mais

Diante do tédio dos homens

Diante das horas absurdas

Diante do nada e do nada e de coisa nenhuma

Diante do escombro e do silêncio

E silenciei o grito

E amordaçei a vontade

E prendi o choro

E zerei a mim até não poder mais

Diante do medo dos homens

Diante da covardia dos seres

Diante do nada e do nada e de coisa nenhuma

Diante do cansaço e da derrota

E sei que a poesia nada mais diz

do que um sussurro e uma brisa marinha

um esforço último de dizer o amor

mas os homens, preocupados com os edifícios,

não podem escutar o canto

nem mesmo a própria voz

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 19/01/2010
Código do texto: T2038063
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