QUANDO ÉRAMOS HUMANOS

Quando éramos humanos e ainda sonhávamos um mundo

Quando tínhamos plena certeza das coisas e dos fatos,

Os pés confortáveis em belos sapatos

O mar seguro, o céu limpo e claro.

As mãos que sabiam o que tocavam.

Quando éramos humanos e não importávamos em sê-los.

Quando éramos água e terra e ar e também fogo

Explosão de palavras e mais palavras

Sentido, limitação, inicio e fim de tudo.

A tudo sabíamos e estávamos atentos

Todos os detalhes, os cortes.

Quando éramos humanos e só isso.

Hoje, mergulhados em miragens e imagens absurdas.

Cães bola parede filmes morte faca bolso antena televisão,

Fragmento de vários outros fragmentos

Que não conhecemos mais a origem

E tampouco o fim do que vemos.

E o poema? O que é o poema?

Uma tesoura certeira a cortar informações várias?

Uma cola resistente a unir pedaços?

Uma patética colcha de retalhos.

Um produto com prazo de validade no verso?

Em desespero num mundo de sons e imagens

Saem da fábrica os poetas

Com fórmulas milagrosas:

Pouca rima e muito cérebro,

Versos curtos e objetivos

Emoção contrita e quase banida.

Ô João Cabral! Se visses os imitadores da genuína arte seca!

Quando não importava se o que nos tocava

Era a realidade ou o sonho.

A escolha livre e justa, sem imposições dos mestres do absurdo.

Quando éramos humanos e queríamos o mar,

Queríamos o avião, o amor, a loucura até...

Hoje não sabemos o que é preciso ter!

Somos plásticos notáveis, quase impermeáveis,

Com vida útil considerável.

Somos um produto com marketing confiável

E vendemos bem, mesmo usados.

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 06/10/2009
Código do texto: T1851317
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.