A uma criança (uma triste realidade)
Pobre criança,
Por que tu não queres mais
no portão de casa brincar?
"Vamos, venha logo cirandar..."
E o teu olhar me entristece
Choro o mesmo pranto teu
O homem louco, cruel e doente
Derrubou teu castelo de areia
Com teus amigos não quiz mais brincar
O isolamento que já se tornou constante...
"Aquele anel que tu me destes, era vidro e se quebrou"
Assim como a confiança em quem tanto tu amavas
Aquela casinha de bonecas perdeu-se no espaço
Tanto medo no teu olhar
Olhos que outrora viviam a brilhar
E a seqüela de dias tristes
que tendem a te atormentar
"Três,três passará..."
Hoje tu não tens mais alegria
Os palhaços da tua infância já não te fazem rir
O teu tempo de criança são sessões de psicoterapia
"Se esta rua fosse minha, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas de ternura"
Para tu, doce criança, passar.
Teu silêncio quebra os vidros da casa
"Uma casa sem graça, sem esmero, sem chão"
São segredos que preferia não guardar
À noite não consegues mais dormir
Teus sonhos encantados transformados em pesadelos
Teus fantasmas tão reais, uma criança tão indefesa...
Assim como um pássaro ferido
Desprovido de suas asas, impedido de voar
Tu precisas ser cuidada, amparada e amada
E nunca, nunca mais violentada
Brincar de amarelinha, passar anel e pular corda
Fazer riscos na calçada. Viver!