Mudança... De uma palafita para outra
1978
Mudou-se Doutor e perdoe-lhe,
Se por lapso de memória,
Esqueceu de lhe avisar...
Mas foram tantos problemas
Que ficou num dilema:
Como lhe anunciar
A mudança do endereço? ..
Primeiro veio um preposto
Dizendo ter sido posto
Com a função de expulsar
Ele lá do seu lar...
Depois veio a policia
E com pompa e malicia
Foi-lhe derrubando as casas
E depois fazendo em brasa
Aquilo que construiu com as mãos...
Com Deus... O diabo e... Os meninos!...
Mil pregos enferrujados,
Um martelo emprestado
E as varetas lá do mato
Trançadas com o barro "chato"
Que custou tanto secar!...
Depois a tinta “fiada”
Pois precisava pintar
Para dar a impressão
Que palafita é um lar! ...
Doutor, filhos, como formiga,
São onze... E tem lombrigas
Que dá mesmo pena ver!...
Pescando dentro de casa
- nas falhas do assoalho, ¬-
Sem saber, pobres coitados,
Que das fezes que faziam,
- depois de feitas em migalhas, ¬-
Os peixes se alimentavam...
E, por simples simetria,
Era do próprio dejeto,
Que eles se alimentavam! ...
E o marisco com mercúrio
Davam-lhes um peso,
Que a pele e ossos não davam
E davam uma cor dourada,
Como se bem bronzeada,
Fosse à pele descorada
De quem tanta fome passa!...
Saiu de lá do Lobato,
Pois não é "pato",
E, com muita euforia,
Arrumou todos os trapos
E de novo com a família
Re-encravou a sua
Nova armadilha...
Pau sobre pau, sobre a lama
E com muito esforço e
Cansaço construiu o novo barraco,
Sobre a mesma maré baixa
- que baixa tem sido a vida... -
E pendurou a família
Como anjos mal talhados
Morando na maré baixa
Bebendo água salubre
Respirando o ar azougue...
Mas aumentando a família
Porque sós onze não bastam
É preciso ter reservas
Neste time de miséria! ...
Mudança 03/03
Doutor, prá quem mora
Em palafita a vida já é
Pôr demais séria!...
E pensar que um moleque
Protegido pôr um quepe
Ou uma farda qualquer,
Vem espancando todos,
Velhos, criança e mulher...
E atira o pouco que eles têm
Pôr sobre a lama do mangue
- sobre a qual sempre vivem... ¬
E se valendo das armas,
Atira litros de gasolina
Pondo fogo nos barracos,
Sem lembrar, se é que sabe,
Que ali moram muitas famílias
Que através do seu trabalho
E pagando seus impostos
Pagam-lhes também os soldos..
Mas não tem nada Doutor
Deixa o "Toninho Malvadeza",
Vir aqui pedir seus votos,
Quando a eleição chegar! ...
1978
Mudou-se Doutor e perdoe-lhe,
Se por lapso de memória,
Esqueceu de lhe avisar...
Mas foram tantos problemas
Que ficou num dilema:
Como lhe anunciar
A mudança do endereço? ..
Primeiro veio um preposto
Dizendo ter sido posto
Com a função de expulsar
Ele lá do seu lar...
Depois veio a policia
E com pompa e malicia
Foi-lhe derrubando as casas
E depois fazendo em brasa
Aquilo que construiu com as mãos...
Com Deus... O diabo e... Os meninos!...
Mil pregos enferrujados,
Um martelo emprestado
E as varetas lá do mato
Trançadas com o barro "chato"
Que custou tanto secar!...
Depois a tinta “fiada”
Pois precisava pintar
Para dar a impressão
Que palafita é um lar! ...
Doutor, filhos, como formiga,
São onze... E tem lombrigas
Que dá mesmo pena ver!...
Pescando dentro de casa
- nas falhas do assoalho, ¬-
Sem saber, pobres coitados,
Que das fezes que faziam,
- depois de feitas em migalhas, ¬-
Os peixes se alimentavam...
E, por simples simetria,
Era do próprio dejeto,
Que eles se alimentavam! ...
E o marisco com mercúrio
Davam-lhes um peso,
Que a pele e ossos não davam
E davam uma cor dourada,
Como se bem bronzeada,
Fosse à pele descorada
De quem tanta fome passa!...
Saiu de lá do Lobato,
Pois não é "pato",
E, com muita euforia,
Arrumou todos os trapos
E de novo com a família
Re-encravou a sua
Nova armadilha...
Pau sobre pau, sobre a lama
E com muito esforço e
Cansaço construiu o novo barraco,
Sobre a mesma maré baixa
- que baixa tem sido a vida... -
E pendurou a família
Como anjos mal talhados
Morando na maré baixa
Bebendo água salubre
Respirando o ar azougue...
Mas aumentando a família
Porque sós onze não bastam
É preciso ter reservas
Neste time de miséria! ...
Mudança 03/03
Doutor, prá quem mora
Em palafita a vida já é
Pôr demais séria!...
E pensar que um moleque
Protegido pôr um quepe
Ou uma farda qualquer,
Vem espancando todos,
Velhos, criança e mulher...
E atira o pouco que eles têm
Pôr sobre a lama do mangue
- sobre a qual sempre vivem... ¬
E se valendo das armas,
Atira litros de gasolina
Pondo fogo nos barracos,
Sem lembrar, se é que sabe,
Que ali moram muitas famílias
Que através do seu trabalho
E pagando seus impostos
Pagam-lhes também os soldos..
Mas não tem nada Doutor
Deixa o "Toninho Malvadeza",
Vir aqui pedir seus votos,
Quando a eleição chegar! ...