A louca


Do livro Eu e meu destino - 1996

Lavada a roupa a louca é outra moça
anda nas nuvens mas de vestes limpas
não suja as nuvens nem o céu opaca
Suas visões são claras e distintas
já lhe são as cores, não!... As vacas
matrizes, não são matizes do vermelho
nem é de outra a imagem do espelho
e seu bem amado não é qualquer soldado
e sim um e apenas um... aquele, o mais corado,
o mais de mais forte brio e o de maior valia
sempre o mais valente de todo o quartel!...
Não a louca tem, para cada dedo... um anel
e cada anelo seu próprio sentido ou seria
impróprio dizer-se, sua serventia?
O de pedra amarela é a sua alvorada
aquele de pedra vermelha, seu meio-dia
aqueloutro, de pedra rosada, o seu ocaso
o de pedra azulada, sua madrugada
que ninguém lhe faça pouco caso
pois tudo tem sentido tudo tem seu nexo
e é tudo tão simples, nada de complexo,
a única coisa que não lhe faz sentido
é Deus ter posto dedo nas pontas dos pés
bem melhor seria tê-los, todos, só nas mãos
que assim justificaria ter-se mais dez anéis.
Lavada a roupa a louca é outra moça
lavaram-lhe a cabeça, retiraram a touca
e agora as suas tranças voam livres,
voam súbitas, como levante de perdizes
são longas, como a lágrima que lhe cobria a face
mas lhe lavaram com cuidado o rosto
e disfarçaram, a todo custo, do desgosto
os sulcos, ensinaram-lhe que o disfarce
é: a arte de negar tudo que faz sentido...
é: não entender que a vida é um grande mangue!...
Ela agora é atriz das oito ninguém desdenha
a seminudez ao contrário, reclamam a sua timidez
quando se mostra... breve... bem pouco...
Que a identificou? Ninguém!...
bem se diz que o brasileiro
não come b ... porque ninguém a embalou!...
Não que b... seja a louca... nós é que fedemos
nós que a deixamos "podre"
no jardim à nossa porta ...