Pátria dos risos frouxos

Lyndon Johnson

Presidente americano

Em 1967 falou

Aquele cara do Brasil

Costa e Silva

Quando te olha no olho

E diz que está contigo

Você sente que ele está falando sério

Rio de Janeiro

Vinte e nove de março de 1968

Um jovem de dezessete anos velado

Na Assembléia Legislativa

Edson Lima Souto seu nome

Choques de polícia com estudantes

Anos de chumbo

Passeata dos Cem Mil

Em outubro explode uma bomba

Mas logo onde

Justamente na porta da Editora Civilização Brasileira

Serviço creditado ao Centro de Informações do Exército

A eles todo mérito

Onze de outubro de 1968

Arrastão

Estudantes capturados

Novecentos e vinte no total

Sítio Ibiúna

Congresso clandestino da Une

Peça Roda Viva

Estréia janeiro 1968

Tentativa artística

Provocar o espectador

O diretor da peça dizia

Preciso é chamá-lo de burro

Recalcado

Reacionário

Caetano cantava

É proibido proibir

Glauber Rocha dirigia

Deus e o Diabo na terra do sol

Enquanto isso

Delfim Neto

Jarbas Passarinho

Gama e Silva

Pedro Aleixo

Orlando Gaisel

Nos bastidores atuavam

Governo baixa

Ato Institucional

Coloca Congresso

Em recesso

O tempo

Indeterminado

Princípio

De uma longa noite

Onze anos

De Ditadura Militar

A grande massa

Parecia congelada

As cabeças pensantes

Procuradas

País de marechais

Todos com sua pompa e glória

País que viu sua liberdade suprimida

Aviões da Fab

Levavam para alto mar

Comunistas, perigosos

Lançavam lá do alto

Vidas!

Mas era para o bem geral

Afinal eram a encarnação do mal

Quantos calabouços

Quantas torturas

Quantos silêncios

Em nome da ditadura

Se hoje estou aqui a escrever

O que sucedeu

O que sucede

Nesta Pátria mãe gentil

Devo muito, devo tudo

Aos que silênciados foram

Aos que torturados foram

Aos que desapareceram

Nunca mais retornaram

Eles, lutaram

Pela liberdade

Pela democracia

Confesso

Que muita tristeza invade

Ao olhar a atual juventude

Tão preocupada com festas, baladas

Noitadas de porradas

Briga de pity bull

Briga de playboy

Mas que cabecinhas ocas

Não se apercebem

Da liberdade que possuem

Sequer se dignam

A conhecer melhor a história de seu país

Preferem aproveitar

Sair atrás do trio elétrico

Afinal

Atrás do trio elétrico

Só não vai quem já morreu!

Já cantou Moraes Moreira

E assim seguimos

Nos tornamos omissos

Mas que droga toda é esta

Liberdade aprisionada

A fulana dança no Congresso

O fulano livra-se da cassação

Ouvimos do planalto risos frouxos

De um segmento político corrupto

Ó Pátria amada

Usurpada

Salve!

Salve!

Creio que a luta nunca acabará

Creio ser urgente uma juventude consciente

De que muito ainda se pode fazer

Em nome do direito de cidadão ser

Pensem, quantos coronéis ainda existem

Quanto trabalho escravo ainda persiste

Quantos poderosos sem nome

Teus filhos hoje

Fogem á luta

Folgam-se em demasia

Permitem que o barco siga o leito

Sem comando

Apenas seguindo

Mandos

Desmandos

Propinas

Por Deus onde estão as cabeças pensantes

Urgência

Quanta podridão no primeiro escalão

Quanta miséria subindo a rampa

Quantas releituras da ditadura

Torturas latentes

Pulsantes

Em favelas, presídios, guetos

Preciso alinhavar

Juntar os retalhos

Encerrar meu desabafo

Mas depois de tudo

Depois de todos

Como difícil é

Arrumar um fim sonoro

Uma rima apenas

Desfecho poético

Para algo tão grotesco e colérico!

Julia Lopes Ramos
Enviado por Julia Lopes Ramos em 06/02/2009
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