E agora, Jesus?
E agora, Jesus?
Chegou a chuva...
Sumiu meu chão...
Minha casa desabou,
Perdi minha mobília.
E agora, Jesus?
Perdi minha esposa,
Não tenho meus filhos...
Perdi minha família...
E agora, Jesus?
O que faço da vida?
Não tenho alegria,
Na noite ou no dia;
Com sol ou com luz,
Estou sem filhos, Jesus!
Minha casa caiu
Meu terreno sumiu
Não tenho mais nome.
Foi tudo na lama
Não tenho registro
Eu nasci e morri.
Tinha nome e perdi.
Era feliz, tudo tinha.
Hoje só, desolado,
Até endereço perdi...
E agora, Jesus?
Eu recordo na lembrança
Minha esposa e as crianças.
Nossa casa colorindo...
No presépio, tu sorrindo...
Nossos filhos contentes
Aguardavam os presentes...
Era tudo tão lindo!...
E agora, Jesus?
O que vejo?
Olho minha cidade
O “bel” está muito além...
Vários meninos na estrebaria,
Várias estrelas guiando,
Vários reis trazendo donativos,
Vários ladrões saqueando,
Ovelhas sujas de lama,
Muitas vaquinhas apodrecendo,
Muitos “bois” sentados,
Alheios à situação.
E...
Enquanto isso, Jesus,
Marias zelam os seus filhos
Da chuva, do frio, da fome.
Muitos Josés, a esmo,
Agarram-se a um parco fio
de desespero ou esperança
pra recuperar dignidade.
Então, Jesus!
Já crescido e ciente,
Vejo-te numa fria cruz,
Contorcendo-te de dor,
Perdoando com amor:
_Eles não sabem o que fazem!
Será?
Agora, sei, meu Jesus!
Tão cruel foi o martelo,
O que sofreste com o flagelo!
Porque minha carne sofrida
Sente os talhos da ferida
De perder quem tanto amei.
O que faço, Jesus?
Poema de Janice de Bittencourt Pavan
Homenagem a todos as vítimas da enchente em dez/2008.
Florianópolis, 16/12/08.