ESCREVO A CÉU ABERTO

Persiste incansavelmente e sem dar

trégua alguma, o frio lá fora.

Minhas palavras, amigas atentas, de

sempre, acompanham a peleja,

reflectindo antes de se posicionarem.

Sangram meus dedos, por fazer de

minha poesia, um grito, que sei

sufocar, na boca do pobre, já sem

forças para contestar uma vida, em

tudo, mais do que ultrajante.

Algumas crianças, curiosas, ainda

trazem no branco do olho, a inocência

e a esp’rança, de dias diferentes,

enquanto vão fungando na roupa o muco,

ensurdecendo-me sobremaneira.

Indiferente às pessoas, que passam,

nas ruas mais acima, o esgoto a céu

aberto, continua a correr; indigentes

pedem privacidade, e, por instantes,

paro de escrever, pra não ofender.

De volta à minha escrita, sem nunca

ser incomodado, com um respeito, que

me comove, a quem julga destas pessoas

má fé, vou acompanhando o vai e vem,

destas gentes, nunca errando o seu canto.

Hoje resolvi escrever debaixo da ponte,

cidadela esquecida, tal o seu asco, a

quem não pode deixar de observar, a vil

desgraça, que por ali abunda, e, fazer, de

meu poema, um relato humanitário.

Já acostumado ao cheiro nauseabundo,

sou parte integrante do povo “estranho”,

sobrevivendo no subsolo, absorvendo

seus costumes, escrevendo pela nesga da

luz do dia, a minha humilde entrega –

o meu ser poeta, acima de tudo.

Jorge Humberto

07/11/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 08/11/2008
Código do texto: T1272785
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