Zé Nepotismo Para Prefeito
Na minha poesia não usarei palavras técnicas
Não utilizarei uma linguagem muito rebuscada
Não utilizarei o eufemismo
Porque quero que todos os leitores entendam
Desde o mais simples camponês sem-terra
Ao grande latifundiário explorador
Quero que todos compreendam
Desde o mais ardiloso e lacaio dos empresários
Ao mais rude e simples operário
Desde o dono da empresa de reciclagem
Ao catador de papelão e de latinhas
Que todos compreendam a minha linguagem
Pois falo no idioma brasileiro
Sem mascarar a realidade
Sem enfeitar a minha poesia
Sem escamotear farei aqui a descrição de uma sociedade
Bem parecida com de Platão, descrita no Mito da Caverna
Carnaval, futebol, religiões
Novelas, programas de auditório aos domingos, televisão
Prisioneiros alienados
Dentro de suas casas-prisões
Domesticados
Lá fora, os líderes
Eles têm nas mãos o controle da situação
Que sociedade é essa?
Sociedade brasileira
Brava gente
Temor servil
Acorrentados
Do meu Brasil
Quem são esses teleguiados?
Alienados?
Todos irmanados
Manipulados de forma tão sutil
Morrem como peixe, pela boca
São pegos pelo estômago
Em épocas de eleições
Que povo é este?
Chama-se povo brasileiro
Que vota pela emoção
Sendo amigo, tem-se um voto de confiança
E o caráter?
Áh! Isso não importa, importa é que fulano é meu amigo, basta
Pronto!
Ta eleito mais um canastrão
Um cara de sotaque caipira disse:
“Ele socorreu minha mãe doente...”
Outro disse:
“Ele me arrumou uma vaga na escola...”
“Prometeu emprego na prefeitura pra minha filha...”
“Garantiu que se eleito, me daria a dentadura de cima e se ganhasse, daria a de baixo.”
No boteco se ouve:
“Ele é gente do povo, pagou churrasco, celveja e guaraná pra nóis...”
“Ele é cumpade do meu pai...”, diz o homem simples da rua.
“Oia moço, ele é inté trabaiadô feito eu...”
“Em São Cosme e Damião inté faz festejos em sua casa...”
“Dá bala pras crianças...”
“Ele é muito religioso... foi no meu terreiro
Seguiu a procissão e depois, da tenda do pai João...
Foi celebrar a santa ceia
Junto com os irmãos
Vestiu de branco
Fez o ziriguidum
Depois correu pra Universal
Pra receber oração do pastor
Deu uma oferta gorda e...
Saiu com a certeza de que vai ganhar a eleição.
Sabe o nome dele?
Zé Nepotismo!
Ele é fruto dessa sociedade
De um povo que vota pela emoção
Povo teleguiado
Alienado e manipulado
Cidadãos dessa republiqueta
Feita nas cochas e na calada da noite
Eta povinho bunda!
Não sabe diferenciar
O certo do errado
Que se ilude com novelas
Levado por qualquer vento
Feito uma nau ou caravela
Não consegue distinguir o falso do verdadeiro...
Nem enxergar a diferença e
Entre a mentira e a verdade
E ainda sai repetindo o plim-plim da Globo
Sem sequer conseguir trocar de canal
Para ver outras programações
Fica de boca aberta
Quando um populista demagogo
Basta uma tapinha nas costas
Pra ganhar a atenção
Deste povo cativo
Pela eloqüência e a emoção
De quem sabe persuadir
Deitando falação
Confundindo a amizade com credencial de ladrão
Pra alcançar o poder
E fazer perpetuar
A mais vil corrupção
Por causa do coração e cala-se a voz da razão
E se entrega Estado
O município e a nação
Nas mãos de politiqueiros vigaristas...
Esse povo só podia mesmo ser o povo brasileiro
Descrito por Aristides Lobo como os “Bestializados”, na época da Proclamação
A farsa do 15 de novembro, foi o dia “D” da corrupção
Enquanto os “Bestializados”
Continuam em suas prisões
Assistindo programas de auditórios
Vendo Gugú e Faustão.