Os poetas e os seus dilemas

Na expectativa do verso perfeito,

ante o poeta, a ideia por direito.

A se entrelaçar em traços e gracejos,

a ansiedade da arte em desejos.

O poema tem lá o seu tempero,

e o autor, poeta temperamental,

espalha pitadas e derrama o sal,

Fervendo versos de desespero.

Uma iguaria experimental. Química!

Malabarismos de palavras mímicas.

Uma ciência, imersa nesse tudo,

Convida-nos a um mergulho profundo.

Até que os cegos deem voz aos mudos

e anunciem a euforia desses mundos.

Pois ao poeta, apenas o que lhe resta

é o direito à tua ideia manifesta.

Há quem divague em riso enfadonho,

mas todos sabem onde moram os sonhos

quando a inspiração se faz presente.

É igual para todos, feito riso em banho,

como quando, após um dia estranho,

somos poetas sob a água corrente.

Nossos corpos, instrumentos do dia inteiro,

fazem do silêncio úmido do banheiro

um instante de liberdade e cantoria.

E rindo de nós mesmos no chuveiro,

quando cantamos para o boeiro,

revelamos o dilema da poesia.