FILHOS DO VIADUTO

Por cima do viaduto

de tanto movimento

carro e caminhão,

pedestre também,

se consomem no asfalto,

mas somem, infaustos,

no meio da multidão.

Semáforos,

tentam frear

uma urgência sem sentido,

no trânsito,

no frêmito,

no pânico,

para algum lugar

que ainda não foi conhecido.

Respiram ofegantemente,

azáfama do cotidiano,

o ar poluído,

rarefeito

e desfeito

acima daquele plano

construído.

Entre beijos e tapas,

máquinas e homens

se atropelam

em rodas e passos

apressados,

imprensados

em trágicas colisões

de corpos e chapas.

Num feixe de luz,

A vida

se esvai no duto

que veloz conduz

e voa no viaduto.

Outras vidas agonizam abaixo

da superfície elevada e imensa

de concreto e de indiferença.

Os filhos do viaduto,

que o adotam como teto

ou como abrigos,

como se fora um feto,

ou um esconderijo

dos seus inimigos.

O elevado de cimento

eleva

a mobilidade urbana,

só falta elevar

a dignidade humana,

para tantos estranha,

àqueles que sobrevivem

e sub-vivem

nas suas entranhas.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 10/02/2021
Reeditado em 11/02/2021
Código do texto: T7180947
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