FILHOS DO VIADUTO
Por cima do viaduto
de tanto movimento
carro e caminhão,
pedestre também,
se consomem no asfalto,
mas somem, infaustos,
no meio da multidão.
Semáforos,
tentam frear
uma urgência sem sentido,
no trânsito,
no frêmito,
no pânico,
para algum lugar
que ainda não foi conhecido.
Respiram ofegantemente,
azáfama do cotidiano,
o ar poluído,
rarefeito
e desfeito
acima daquele plano
construído.
Entre beijos e tapas,
máquinas e homens
se atropelam
em rodas e passos
apressados,
imprensados
em trágicas colisões
de corpos e chapas.
Num feixe de luz,
A vida
se esvai no duto
que veloz conduz
e voa no viaduto.
Outras vidas agonizam abaixo
da superfície elevada e imensa
de concreto e de indiferença.
Os filhos do viaduto,
que o adotam como teto
ou como abrigos,
como se fora um feto,
ou um esconderijo
dos seus inimigos.
O elevado de cimento
eleva
a mobilidade urbana,
só falta elevar
a dignidade humana,
para tantos estranha,
àqueles que sobrevivem
e sub-vivem
nas suas entranhas.