HÁ DIAS

HÁ DIAS

Há dias que são do mundo,
Há dias que são animais,
Mas sei que dias são segundos,
Nas vidas de quem quer a mais.

Há dias de um calor profundo,
Há dias em que o frio é demais,
Mas nunca iremos a fundo,
Perante os mistérios abismais.

Há dias em que me confundo,
Há dias em que choro mais,
Se eu teimo em ser malungo,
Do barco negreiro no cais.

Há dias em que não comungo,
Há dias em que não vejo mais,
Se eu fui capataz vagabundo,
Nas torturas pelos canaviais.

Assim, hoje sou penitência,
Do que fui em vidas atrás,
De tudo que teve influência,
Na vida de meus ancestrais.

E hoje renego ou desdigo,
O ouro que trouxe a revolta,
Pois custou o orgulho da tribo,
E Kalunga não permite volta.

Assim, ainda existem pessoas,
Doentes e insanas sem paz,
Que vivem afundando as canoas,
Gozando com a dor dos demais.

🩸🥺🩸