CORNETAS DERRUBAM E ATÉ MATAM O SUSTENTO

CORNETAS DERRUBAM E ATÉ MATAM O SUSTENTO.

Nos meandros da história ou das estórias, surgiram lugares, vilas, fortaleza,

Com vitórias, combates, astúcias e glórias,

Mas nascem nas margens, de muita beleza,

Jericó e muralhas é nosso grande debate,

Com pira acesa que arde, com toda certeza.

Os combates seguiam no solo e tempo,

Que nunca se desistia ou cessava, lamento,

Nem orando descalços dentro do templo.

Mas de todas as tendas, algo se pensava,

Rompendo armadilhas e toda muralha,

Ao som que espalha, cornetas ao vento.

E hoje nas margens dos rios e lagoas,

Que vertem água ou secam,

De acordo às chuvas, tão boas.

Aguardam nas trilhas que marcam,

Caminhos para atravessar sem canoas,

Cornetas, veneno, o gado as vespas ferroam.

Se as abelhas têm mel, mas vem o ferrão,

Muralhas protegem e também são prisão.

Prisão que torturava as almas e gentes,

Com seus carmas, nas escalas ou suas tangentes.

Forjaram cornetas, de ecos, explosão,

Derrubando barreiras, muralhas, solidão.

Andando às margens, barragem abaixo,

Rio das Contas tá seco e vira riacho,

Os canais ao seu lado mantém esperança,

Que irriga a lavoura, mantendo a dança,

Dos mangangás, abelhas e sua pujança,

Lá vem Evangelho e até pajelança!

Orando pra chuva, de águas benditas,

Nem lembro das cornetas, flores malditas,

Que matam o gado e o veado campeiro,

Nos cones, venenos, cornetas no meio,

Leito ressecado, ramas escorridas,

Ainda não se planta, nem em fevereiro.

Como é o contraste, muralha e lavoura,

Uma prende, esconde, defende e escuta,

O som das cornetas, de toda labuta.

A outra que sulca e guarda a semente,

E recebe a água chovendo cadente,

Gerando alimento, sacia minha gente.

Deus sabe o que todos achamos segredo,

Escalando as muralhas, escada do medo,

Ficavam soprando cornetas e enredo,

Caindo as escoras da guerra tramada,

Vitória dos que jejuam, já é madrugada,

Sobre os ímpios, derrota, agora bem cedo.

Até quando os políticos, serão todos surdos,

Ao clamor da labuta que pede a lavoura,

Às margens do lago, barragem brejeira,

Que cabe a manga, tomate e pimenta,

O melão, melancia, abóbora, ela aguenta,

Sem estrada, assistência, como na manjedoura.

São tantas as margens, de tanta beldade,

Plantei melancias, que barbaridade!

Vinha pelo Espinho, Catingal que saudade,

Plantando esperança, bem na claridade.

De janeiro a dezembro, e junho no meio,

Trator e arado, tudo irrigado, Ernesto meeiro.

Aqui tenho também a singela homenagem,

Com carinho, labuta, não é uma bobagem,

A Ernesto e a Charle, cunhado coragem,

Que viu minha grande luta, buscar o sustento,

Trabalhando em mão dupla, no sol bem atento,

Plantão na estrada, viajar sem ver água, lançar pó ao vento.

Tristeza minha, na proibida lavoura,

Sustento pros filhos estudar bem lá fora,

Ficou mais difícil, costurar sem tesoura,

Sem saúde, pois tinha somente essa escolha,

Sobrar mantimento, manter o fermento,

Pois tudo é deixado ao andor e sustento,

Pra Rapha e Érica, meus vinhos de rolha.

Publicado no Facebook em 29/04/2018