O MENDIGO ERA EU

2° poema da série:

“O Cotidiano nosso de cada dia!”

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O MENDIGO ERA EU

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Vivia maldizendo a vida,

Andava triste e aborrecido

Quando me deparei, na rua,

Com aquele ser desvalido

.

Eu vi nos olhos daquele homem

A aridez da vida

A fome, o frio,

As intempéries.

.

Esculpiram na sua face

Uma sentença cruel, perverso sinal

Um anátema de um mundo desigual.

.

A dor latejante do abandono

Cavou um sulco no seu rosto

Por onde as já desidratadas lágrimas

Há muito não escorriam

Pelo leito seco e estéril das lástimas

Que a indiferença dos homens

Assim sedimentou

.

E ele, que eu presumi,

No meio do seu ócio,

Da invisibilidade social,

Que cultivava um ódio

Da sociedade em geral,

Sorriu para mim!

.

Pressentiu a minha ferida,

Do homem “bem-nascido”,

Ofertou-me a sua bebida

E disse-me que Deus

Estava sempre comigo

.

Pois a vida era muito bela

Para se maldizer

E também é uma aquarela

Para se enaltecer

.

Então, constrangido,

Derramei uma lágrima,

E, envergonhado, eu percebi por inteiro

Que perante os desígnios de Deus,

E diante da gratidão daquele esmoleiro,

O mendigo, na verdade, era eu.

.

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Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 16/12/2019
Código do texto: T6820328
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