OS OLHOS DA CIDADE
É intrigante
Ver a face concreta da cidade
Com seus olhos brilhantes
Como se quisessem me devorar
Quantas histórias habitam
Dentro de cada janela?
Elas se contam
De vários modos
De um jeito fácil
Vem fichada
Doutro, difícil
Na fachada
Do edifício
Queria poder conhecer
Os medos
Os receios
As agonias
As dúvidas
Dos olhos desta cidade
Ser o compartimento
Ser o comportamento
De todos
Que se confinam
E se consumam
Em um apartamento
Nas casas
Nas moradas invisíveis
Nas calçadas das suas ruas
Sob o teto da mesma lua
Queria poder penetrar no seu seio
E arrancar de suas vísceras
Suas mais inquietantes aflições
Para poder restituí-las na forma
De alguma esperança
Afinal esta cidade também é minha
E nessa pertença urbana
Compartilhamos tudo aquilo
Que nos faz únicos
Na homogeneidade
De um povo
Na heterogeneidade
De cada identidade
Esquecida
Despercebida
Na multidão que somos nós.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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