ENQUANTO O TREM NÃO VEM
ENQUANTO O TREM NÃO VEM
Queria te poder tecer
Numa miríade de fios dourados
Que furtei da cabeleireira do sol
Eu vim de lá
Eu sou de lá
Só lá
Solar
E no emaranhar
Dos cabelos áureos
Da textura capilar
Cegar-me da luminescência
Dos fios incandescentes
Tempestades reluzentes
Que com tanta frequência
Relampejam
E despejam
Raios incendiários
Luminosos brilhos
Sonhos ferroviários
Dormentes trilhos
Desta composição
Dos que se vão
Pelo vão
Devagar
Divagar
Pela vazão
Pelo vagão
Sem razão
Insana e ativa
Vou também
No louco trem
Na locomotiva!.
Queria poder te tecer
Com esse meu traço
Poético
Estético
Quisera,
Profético
Quimera!
De um jeito férreo
Metálico
Iniciando no térreo
Findando no terraço
Acrobático
Equilibrando o meu ser
Entre o prazer desse gozar
Entre me exaurir e te saciar
Queria apenas esta ação
De um dia iluminado
Uma musa ao meu lado
Com cabelo ensolarado
Neste banco de estação
Vou sonhando acordado
Dormitando nessa espera
Da dor que desce a serra
Não quero mais acordar!
Só desejo poder sonhar!
E me destituir
E me permitir
E fugir para me refugiar
Antes que a urgência
De toda sua ausência
Se possa ouvir
Pelo apito a zunir
Cruel a me infligir
Piuí, Piuí, Piuí, Piuí!
É hora de eu partir
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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05 de abril de 2019