Lembrança do hospício - poema do livro ainda inédito O medo do teto -.

-------- Dedicado a Cora Colatina

.

Da varanda do quarto

olhava o pátio central

e um sol oblíquo sabe-se

lá de que hora banhava

grama clara seca cor

igual caldo de cana.

.

Havia a desorientação

no tempo e no espaço,

nela aconteceu passeio

desde um extremo

ao outro, muro a muro.

.

De lado de onde saíra

era muro sem reboco

com um pouco de casca

aqui e ali. Minutos

percorridos, muitos,

houve o dar de cara para

linha de fissura no

reboco do muro

do outro lado do lado

de dentro. Lá flor

de caule fino brotara

da cor esmaecida, hoje,

quase diáfana ao tempo.

.

Voltou para varanda

tentando reencontro,

sentou-se na mureta,

como se a ira e a dor

tivessem ido embora

com os seus motivos.

.

Logo sentou-se perto

interno de grenha rala,

magro como agulha

no palheiro; que disse:

Aceita um cigarro

de hortelã, meu chapa?

.

Há mais de vinte anos

que não mais fumara.

Mas como negar-se

a sentir algum aroma

da vida e do mundo,

algum frescor dádiva?!...

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 15/05/2023
Reeditado em 28/03/2024
Código do texto: T7788918
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