CASA SEM DONO

CASA SEM DONO

 

O homem nasceu nesse bônus,

Que, no caso, se chama Terra,

Mas é como a casa sem dono,

Pois quem ama não a governa.

 

Será isso aluguel ou contrato,

Onde se paga em moeda de vida,

Pois ninguém é fiel ao trato,

Destruindo sem ter a medida?

 

Dentre quase todo espaço,

Somos gratos da sociedade,

Onde vejo além do meu passo,

Mas disfarço na ansiedade.

 

Quem será o verdadeiro dono,

Quando a sociedade é anônima?

Pois venero de modo enfadonho,

A quem vejo de forma canônica.

 

Só quem lê diz que ele escreve,

Mas pra quê, se é dono de tudo?

E o mistério é que lhe descreve,

Pois o resto parte do absurdo.

 

Mesmo eu sendo sua parte exposta,

Sei apenas que só ele existe,

Pois eu sou a semente que exorta,

O valor de quem cria e insiste.

 

Pois se eu fosse o ser inefável,

Já teria deportado os humanos,

Para qualquer lugar execrável,

Desde que só entopem os canos.

 

Somos como o limo e o lodo,

Mesmo quando esses são legais,

Pois além do caprino e o lobo,

Nós matamos a tudo e bem mais.

 

Se prestasse caçava e comia,

E colhia o que só precisasse,

Mas abate por louca heresia,

De se achar donos do passe.

 

Nos achamos as feras galáticas,

Com poder de reinar nas estrelas,

Mas não sabem das eras sabáticas,

Que os astros zelam por tê-las.

 

Quando pensam ser grandiosos,

Deveriam saber que não sabem,

Pois um sábio é mais glorioso,

Por saber do nada que vale.

 

Tudo aqui é veloz num Pajero,

Mas não somos a lenda das eras,

E o pulsar da vida é ligeiro,

Que o tempo nem abre janelas.