NOSSA IDADE MÉDIA

NOSSA IDADE MÉDIA

 

Como dar bom dia aos peixes do rio,

Quando o mercúrio afeta meu lar,

E o que sangra me dá calafrio,

Pois segue o seu curso pro mar?

 

Se ontem eu comia com medo de iodo,

Pois os crustáceos assodam a gota,

Onde o medo é bem mais que engodo,

E fico afoito se a morte transborda?

 

Antes de Cabral era só maravilha,

Tomava meu banho nos rios e lagoas,

Pois não tinha gripe e nem a pilha,

Que hoje enferruja e mata de boa.

 

Mas vem Zeus ter noites de Europa,

Com uma corte de deuses ladrões,

Ao levar pau-brasil com anedotas,

De vã calmaria e de sermos pagãos.

 

Pois não lembraram ter uma crença,

Se foram buscá-la na borda da Ásia,

Sem ter noção da humana existência,

Que, muitas vezes, virou eutanásia.

 

Os povos de outrora se imolavam,

De ponta à espada se derrotados,

Porque só a glória lhes importavam,

Dando a vida sem dias contados.

 

Na idade média era trinta e cinco,

E Cristo foi velho aos trinta anos,

Onde se viviam na porta sem trinco,

E várias doenças finavam os planos.

 

Alexandre Magno morreu também cedo,

Como Castro Alves foi tuberculoso,

A peste negra matou mais que terço,

Não sem oração, mas levou o zeloso.

 

Em cada ossada não vejo virtudes,

Pois deixam na vida as suas ações,

E como há bombas de má atitude,

E vida se vai sem termos perdões.

 

Um dia acordei sob o neto fascista,

Que nunca serviu pra ser bom praça,

E não se portou qual doce artista,

Pois sobreviveu da nossa desgraça.

 

A glória da farda é nunca matar,

Mas o contrário é o que se colhe,

E querem ser donos do sol e do mar,

Enquanto Saturno os filhos engole.

 

Quem não trocar o bebê pela rocha,

Irá perder os seus filhos também,

Lembrando que há os dias de corsa,

Quando um caçador ainda é neném.

 

Somente seremos como Prometeus,

Se partilharmos o bom humanismo,

Mas há esperança, se tenho a Deus,

Senão haveria somente o sinismo.

 

Não é sabatina contra os crimes,

Que dá como certa a nossa atitude,

Mas ver que o tempo nos exime,

De ter nos costumes a boa virtude.

 

Quando roubavam o boi no pasto,

Logo enforcavam quem não achou,

Mas não esqueça que nesse rastro,

Vence o desdém, que depõe o amor.