Eu vi...

 

 

Eu vi a tempestade se formar,

o vento, de louco, o barco balouçar,

a chuva ventosa a fustigar,

o casco, as velas, os rostos, o chão...

 

Navegavam no mar bravio,

depois de fugirem de bravio chão,

rostos marcados pelo choro,

dor apertada a marcar o coração...

 

Eram tantas as perdas, e sem ilusão,

entraram no grande barco, com aflição,

destino agora era apenas salvar,

alguma vida que ainda pudesse superar...

 

Ah! Eu vi o navio que partia,

cheio de gente, coração partido,

dores que levavam presas nas almas,

traumas de vida que mais tarde brotaria...

 

O que pode surgir das guerras?

Além dos destroços das cidades,

almas destroçadas de medo e dor,

mundo partido e destruído, por fora e por dentro...

 

Há algum bom fruto que sai das guerras,

que é a necessidade urgente e profunda,

das gentes se unirem pra fugirem dela,

criando famílias abraçadas, pra fugir das loucuras...

 

Sou fruto de um lar assim,

onde um menino virou homem

e formou família, que uniu, e não largou,

fugiu do medo que o tomou, e nos guardou...

 

Os traumas da infância destruída,

num novo pais, gente e língua novas,

novas oportunidades e perspectivas,

a doença dos nervos na velhice o tomou...

 

Nem era tão velho, assim!

Aos quarenta anos alguma coisa veio à tona,

deixando os nervos em frangalhos, destruído,

travado numa posição de choque!

 

Que mais pode nos dar de resultados, as guerras?

A vontade de nunca mais estar dentro novamente,

de nunca mais ter que passar por ela, por suas dores,

pelos medos e traumas que elas fazem...

 

Então, diante do que sentimos,

podemos constatar que as guerras valem

alguma coisa, que nos diz muito, que nos diz da união,

que nos diz da necessidade profunda que temos de paz...