Bruxa interior
Foge à razão a intuição que lhe é própria
Em mística contemplação meditativa
de sua natureza, raiz pulsante e singela
que na harmonia da terra se equilibra
Das águas de seu ventre a vida nasce
em espumas povoadoras de Afrodite
junto ao mar, seu nobre amuleto
fundida ao amar, seu sublime convite
Musa esquecida, de presença inculta
sua voz quebra o som firme do silêncio
e suas velas acendem o enigma da gruta
onde o mistério improvável é propenso
Feiticeira desventurada no mundo comum
busca o livramento do quebranto, refúgio
em que sua essência o vínculo primitivo
possa recordar, no sortilégio ou no dilúvio
Não é corcunda, nem venera o escuro
seu olhar cósmico, porta para o universo
tão denso, feminino, sublime e puro
evoca a paz e elimina o temor perverso
Mãe do mundo, filha das batalhas
Não aceita seu solene destino
de viver na assombrosa submissão
que dita e escreve seu infortúnio
É no inconformismo incandescente
que sua luta se eterniza brilhante
na aurora enérgica que move o céu
e na terra cai em ecos exuberantes