Se o amanhã não existir

Se curta for a minha estrada, longos foram os meus sonhos em pisar por elas. Se a cada dia que passa, aproxima-se o dia do termino do meu viver, até lembrarei com graça, da meninice, da infância, da pré-adolescência da juventude, e do homem que me tornei em busca desses ideais tão comuns que a vida nos apresenta.

Já escrevi um livro, já tive vários filhos (e até netos) e já plantei um pé de ERVA CIDREIRA no quintal da casa onde moro, logo, a realização da minha vida já aconteceu, pois assim figuram as palavras dos intelectos.

As maiores riquezas expostas aos meus olhos, chegaram também ao meu coração, pois foram constituídas de sentimentos, sonhos, parcerias e muita vontade de construir um viver ao lado de uma família constituída, sabendo muitas vezes que o mesmo valor que tem um quilo de picanha, por vezes, custa também uma dúzia de ovos. Tudo, depende apenas do instante vivido.

Abastança e dificuldade, são parceiras de vidas pois ambas estão ligadas como se fossem gêmeas. Soube, com graça respeito e muita luta, conviver com elas e por isso sei o valor que os valores por vezes nos impõem para viver. TUDO NA VIDA TEM UM PREÇO, e quantas vezes nos perguntamos: quanto valho?

O que fiz até aqui, ficará aqui mesmo após a minha despedida dessa terra que se manifesta com jeito mesquinho de querer aniquilar a vida de muitos, e está provando isso a cada dia, quando mais um corpo se vai todo empacotado sem que tenhamos nem se quer a chance da despedida que era tão normal faze-lo.

Até aqui eu sobrevivi e Deus me conservou a graça do respirar. Todavia, de uma hora para outra, será inevitável que o meu prazo de validade se finde e dormirei como os outros tantos que já se foram.

O que levarei? Nada, pois o sono não me permitirá saber se de fato durmo, ou se estou num sonho transitório onde as lembranças se apagam e não permitem revelar o que de fato se sonha.

Deixarei meus escritos, minha voz em letras, meu cantar nessas plataformas digitais, ou num dos cds adquiridos através das minhas tantas andanças dividindo meus passos entre O FEIJÃO E O SONHO.

Sei que muitos propagarão com ênfase, enaltecendo o meu nome, narrando em alguns lugares por algum tempo, os meus feitos, meus papos furados, meus risos e o meu jeito (safado e sério) de ser. Sei também que tudo isso irá lentamente se apagando dos corações, onde a saudade será transformada em pequenas lembranças oriundas das mentes que lamentarão (EU SEI DISSO) a falta que farei.

Pra onde levarão meu corpo? Não importa, não terei tempo para discutir e nem tampouco opinar sobre isso. Levem-me para onde os meus sonhos nunca se percam dos corações das pessoas que tanto amei nessa terra.

Posso estar fazendo nesse momento o meu testamento por não saber como serão os momentos futuros da minha vida.

Partirei lamentando que os poderosos tenham produzido esse maldito vírus, para que suas economias pudessem alcançar vultosas quantias, enquanto que vidas (como a minha) tiveram que partir sem ver a cor do novo dia que jamais chegará, por conta das suas desenfreadas (e tão notórias) ambições.

Se os meus dias forem prolongados além desses momentos confusos, estarei sim comemorando mais um ciclo desse existir. Todavia, viva eu o quanto viver, esse TESTAMENTO, será a comprovação real de que não foi escrito em vão, pois levará abaixo, a autenticidade de ter sido escrito por mim, num dia qualquer vivido cheio de esperança, fé, amor e muitas dúvidas. Sim, muitas dúvidas, duvidas e duvidas no tocante ao meu viver.

Viver, é ter a consciência plena que um dia também teremos os nossos dias findos nessa terra. Quando ocorrerá? Não sabemos, mas, ao perceber os números alarmantes daqueles que já se foram, tenho a certeza, que esse mundo nunca mais será o mesmo e que as horas finais se apressam em resgatar para um outro plano a vida de tantos.

Estou hoje, (Quinta feira, 06 de maio de 2021) – na cidade de Caldas de Cipó – Bahia.

Amanhã...