NOTURNO II
NOITE,
As aves noturnas, em seus momentos perálticos,
Perturbam o silêncio das casas abandonadas,
Semi-demolidas pela erosão dos dias
Na lei destinável das coisas.
NOITE,
Os vegetais choram de frio.
Uma barriga ronca de fome.
Um estranho cruza comigo,
E me olha na indiferença do desconhecimento.
NOITE,
Alguém em algum lugar, geme de dor.
Uma criança raquítica, tosse no quarto,
Um outro, chora de medo e acorda do sono enfatizante,
A mãe esquelética e cambaleante.
NOITE,
O pai, inerte, dorme indiferente.
Um cão uiva de desespero.
Uma virgem, entrega-se facilmente
Ao moço-sádico que jurou-lhe amor eterno.
NOITE,
A lua desaparece bêbada e sonolenta
O sol acorda sorrindo
E vomita mais um dia de tristeza,
Na vida de quem consegue acordar.
Tácito