NOTURNO II

NOITE,

As aves noturnas, em seus momentos perálticos,

Perturbam o silêncio das casas abandonadas,

Semi-demolidas pela erosão dos dias

Na lei destinável das coisas.

NOITE,

Os vegetais choram de frio.

Uma barriga ronca de fome.

Um estranho cruza comigo,

E me olha na indiferença do desconhecimento.

NOITE,

Alguém em algum lugar, geme de dor.

Uma criança raquítica, tosse no quarto,

Um outro, chora de medo e acorda do sono enfatizante,

A mãe esquelética e cambaleante.

NOITE,

O pai, inerte, dorme indiferente.

Um cão uiva de desespero.

Uma virgem, entrega-se facilmente

Ao moço-sádico que jurou-lhe amor eterno.

NOITE,

A lua desaparece bêbada e sonolenta

O sol acorda sorrindo

E vomita mais um dia de tristeza,

Na vida de quem consegue acordar.

Tácito

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 15/07/2020
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