VIDA e tempestades




'Na terapia da poesia,
eu desabafo, ah, sinto muito,
mas eu desabafo na poesia..'





A natureza canta, normalmente;
não tem choro no sol, nem na lua;
tranquilos seguem sua rota, gentilmente,
um sedendo o lugar ao outro, em cada turno.

As sementes irrompem, no chão duro,
frutificam seus frutos, sem se preocupar
se alguém vai comer, ou se vão cair
no chão e se espatifar, maduros...

Os pássaros voam de lá pra cá;
fazem seus ninhos onde podem,
comem o que gostam, o que encontram,
e cantam seus cantos, todo dia...

O dia vem e vai. A lua se transforma.
A noite, escura ou clara, com ou sem estrelas,
está ali, todos os dias, e a natureza respira
das suas grandezas e belezas, sem vaidades.

Porém, algo anda muito errado no universo;
na verdade no universo humano, das pessoas;
tudo é muito natural, nascem e morrem, sempre;
mas a dor que carregam os consomem lentamente...

Que lugar é esse de tanta beleza, tanta grandeza,
que trás sobre si um povo que não coabita
com leveza, com naturalidade, com tranquilidade,
em meio a tudo o que aqui há?

Que nos machuca tanto, que nos faz tão doloridos,
que que precisamos para sermos realmente felizes?
O que está errado conosco? Esse não é nosso lugar?
Porque tudo é tão difícil? Porque não nos entendemos?

Porque não nos respeitamos, nos cuidamos, nos amamos,realmente, por mais que saibamos
que é disso que precisamos?

Porque apesar da naturalidade estática da natureza,
nós temos que mudar tudo, não cabemos nela,
usamos de tudo, abusamos, destruímos, modificamos,
e vamos tentando morar nesse lugar como se fosse
um lugar para passarmos nossa eterna vida aqui...

Mas nada dá certo, a vida não se enquadra
no quadro que a natureza nos oferece
e nos apresenta; mudamos tudo;

Queremos muito ser felizes,
mas a felicidade parece que foge de nós,
e nós sofremos, enlouquecemos, choramos,
morremos, e não conseguimos viver
como gostaríamos, porque no final
o que deixamos, ou o que levamos,
funcionou para que, para que, realmente?


Quanto eu sou feliz? Quanto eu estou realmente feliz?
Quanto as pessoas estão realmente, profundamente
realizadas, felizes, contentes, animadas, protegidas?

Que mais falta á humanidade para que o amor
nos transforme em seres mais coerentes e amenos,
menos intolerantes, doentes, loucos?

Tudo parece tão estranho, de repente,
como se nada realmente importasse,
como se tudo o que fazemos, no final,
não importa, porque o vento vem e leva,
e leva, e leva, e parece que nada do que fazemos
realmente importa para a natureza,
que se recria, mesmo quando a abandonamos,
quando deixamos nossos escombros para trás,
quando deixamos de existir em qualquer lugar...

É muito natural dizer que a natureza
não precisa de nós; mas nós,
ah nós precisamos desesperadamente dela;

Mesmo assim não respeitamos,
não sabemos realmente como agir;
vamos criando jeitos e jeitos, sociedades
e sociedades, civilizações e civilizações;
até que vem alguém e se acha o dono,
e acaba com tudo...

Pra que lutamos tanto?
Pra que trabalhamos tanto?
Pra que juntamos tanto dinheiro,
fazemos tantos edifícios,
que depois acabam caindo
e nos matando dentro deles?

Quem somos?
porque estamos aqui?
pra que servimos?
pra quem servimos, ó Deus?

Me diga, me diga, me diga, 
pra que tudo isso? 
pra que servem os humanos,
nesta terra tão linda e bela,
que nós enfeiamos?

Espero, paro e espero, pergunto e espero,
porque realmente são muito insignificantes,
as grandiozidades que os humanos aqui realizam.

A natureza nem liga.
Não tá nem ai. Está pouco se lixando.
E nós achando que somos alguma coisa importante.


Que o Universo tenha piedade de nós, amém!@


E eu posso chorar, posso gritar, posso viver,
correr, morrer, mas o dia continua surgindo
em cada manhã, e de noite, vem as fases
da lua, e tudo corre tranquilamente, e eu,
bom eu, só eu mesmo para sentir...

E muitas vezes ninguém está nem ai,
se eu morrer na sargeta,
como ocorre com os moradores de rua...



Porém natureza nem liga.
Não tá nem ai. Está pouco se lixando.

Que o Universo tenha piedade de nós, amém!@



 
Maria Tereza Bodemer
Enviado por Maria Tereza Bodemer em 06/07/2020
Reeditado em 06/07/2020
Código do texto: T6997420
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