Autocrítica diante da esquerda e da direita

Não muito tempo atrás, a razão

se encheu de ira, como se fosse um pássaro

batendo asas nas paredes,

porque somente asas são capazes de serem

ouvidas por paredes. E as paredes em resposta

a cada batida das asas transformavam asas

após asas em bumerangues;

nenhuma parede quis abrir uma janela.

-

A mãe, que dizia todos somos

iguais, erguera as paredes para poder ser

a única a escutar o canto do pássaro:

não sou igual a todos e me estranho

quando estou a sós ou a frente do espelho

que sempre insiste em mudar

a minha imagem.

-

O pássaro esperava do pai ao menos

alpiste; e cantou o mais alto que pode

perto do teto (parede horizontal acima):

é preciso um limite; e repetiu o assovio,

como se reclamasse um braço forte,

sentindo-se capaz de suportar a força do braço

injusto dentro do grande equívoco

entre o não e o não, não: não! E não!

-

Para ficar equidistante do não e o não,

não: não! O pássaro se fez de liberal

para tentar a onipotência entre o não e o não

até sentir a solidão libertadora capaz

de libertá-lo da ilusão do ódio transcendente

que faz a ira ser o cajado bumerangue

capaz de transforma o pensamento

em arma impotente, venal e tristíssima,

capaz de erguer paredes em volta das asas.

-

Repulsa ao erro crasso o fez sentir-se

entre o sol sem fundo e o sol sem luz,

então voou ao sol sem fundo

para lutar com todas as forças contra o sol sem luz.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 29/05/2020
Código do texto: T6962169
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