PORÃO DO NEGREIRO

PORÃO DO NEGREIRO

Aquele olhar de soslaio,
que a nuvem deixou,
foi como um raio,
em todo queimor.

Nem era um orvalho,
mas flecha de dor,
que jogam com baralho,
rindo do estertor.

De um réu sem denário,
nas mãos do Senhor,
ante o fuzil ordinário,
de um pelotão sem amor.

Era treze de maio,
lhe enganou o pretor,
que fingiu liberdade,
igual a santo no andor.

E morreu no primário,
sem nenhum esplendor,
e só serviu pro trabalho,
pois, torturado, chorou.

Calou pela tristeza,
e censura na dor,
que lhe tirou a beleza,
dignidade e valor.

Então teve a certeza,
De que somente flertou,
Com toda realeza,
Para morrer sem pudor.

Sendo escravo na braga,
sem ter o real valor,
pois nunca viu liberdade,
sendo um vil perdedor.

E as portas da velha Roma,
lhe cegaram toda visão,
de dentro e até lá de fora,
pois nunca achou permissão.

Se a liberdade se foi,
no meio da ilusão,
que o porão do negreiro,
tivesse vinho e pão.

*******
Publicada no Facebook em 26/01/2020