DAS ORFANDADES E DOS CANIBALISMOS
De todas as orfandades
Que me acometem
Nas ausências mais devastadoras
Sinto a presença mais recorrente
Do vazio instalado em mim
Onde foi parar o meu eu, dilacerado ?
Onde fui parar quando os desgovernos
Das minhas escolhas conduziram-me
A escuridão na estrada da vida?
Os verbos estacionaram nas bordas do tempo
E o único a prosseguir, por ironia
Foi o próprio “desistir”.
Este cumpliciou-se com os meus medos
E de condutor
Virei conduzido
Abduzido
Reduzido
À soma do produto de todos os termos
Pelo meu zero existencial.
E então, do vazio agigantado
Pelos erros meus
E sonhos pigmeus
Restou-me preenchê-lo
Com boas doses de ilusões
Que me convidam diariamente
Pare o banquete do qual eu serei
O próprio prato principal
No canibalismo que eu mesmo fecundei.
Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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