QUANTO TEMPO ?
Quanto tempo
O tempo ainda terá
Para me dedicar?
Será que ele me acorda
E vem com a sua corda
Para me enforcar?
Ou trará, então
Suas outras cordas
Como um violão
Para me dedilhar?
Em que tempo
Deixei o tempo?
No passado ou presente?
Será que ele se ressente?
Será que, de mim, julga a ação?
Será que na falta da conjugação
De um pretérito perfeito
Me deu um presente desfeito
Afundado nas águas de um rio?
Ou, o que é pior
Me deixou só
Prostrado, definhando no leito
De um futuro repleto de vazio?
Seja no frio ou no calor
Não existe mais bom tempo
A força do meu clamor
Seja de que forma for
Seja de qualquer jeito
Não produz mais efeito.
Da minha dor
Do meu triste retrato
O tempo se assenhorou
Não cabe contestação!
Pois ele é, de fato,
O senhor da razão
Deixou-me apenas
Como refrigério
Um falso remédio
Eu sinto, eu percebo
Em forma de poesia
O meu doce placebo
Que escrevo todo dia
Até o fim da travessia
Quando o tempo, enfim
Voltará sem tempo
E me levará com o verso
Para um outro universo
Para o lado oculto de mim.
E enquanto eu não vou
Num último gesto de lamento
Olho para cima do firmamento
E pergunto ao Criador:
Quanto tempo?
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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