QUANTO TEMPO ?

Quanto tempo

O tempo ainda terá

Para me dedicar?

Será que ele me acorda

E vem com a sua corda

Para me enforcar?

Ou trará, então

Suas outras cordas

Como um violão

Para me dedilhar?

Em que tempo

Deixei o tempo?

No passado ou presente?

Será que ele se ressente?

Será que, de mim, julga a ação?

Será que na falta da conjugação

De um pretérito perfeito

Me deu um presente desfeito

Afundado nas águas de um rio?

Ou, o que é pior

Me deixou só

Prostrado, definhando no leito

De um futuro repleto de vazio?

Seja no frio ou no calor

Não existe mais bom tempo

A força do meu clamor

Seja de que forma for

Seja de qualquer jeito

Não produz mais efeito.

Da minha dor

Do meu triste retrato

O tempo se assenhorou

Não cabe contestação!

Pois ele é, de fato,

O senhor da razão

Deixou-me apenas

Como refrigério

Um falso remédio

Eu sinto, eu percebo

Em forma de poesia

O meu doce placebo

Que escrevo todo dia

Até o fim da travessia

Quando o tempo, enfim

Voltará sem tempo

E me levará com o verso

Para um outro universo

Para o lado oculto de mim.

E enquanto eu não vou

Num último gesto de lamento

Olho para cima do firmamento

E pergunto ao Criador:

Quanto tempo?

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 09/09/2019
Código do texto: T6740673
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